Total de visualizações de página

8 - Um tesouro de Saci!

Sacifreuderê adorava passear na Serra do Camaragibe admirando as belezas do mundo. 
Passava seus dias assim, rodopiando aqui, ventando acolá, virando redemoinho nas fazendas e levantando poeira por onde passava.
Gostava especialmente da florada das canas-de-açúcar esparramadas em cobertura rosácea dos pés até os cumes dos morros.
Foi num desses dias, quando o sol já dava sinais de que a lua queria chegar, que Sacifreuderê voltou para casa e encontrou Fridoquinha e Marieta conversando sobre um papel desenhado. Se aproximou querendo sabr do que se tratava. 

"Frida encontrou na praia uma garrafa com um papel dentro!". Explicou Marietinha.
"Bah! Mas que lindo! Parece desenho de criança. Podemos fazer um belo quadro e dar  para vovó! Mas, pensando bem... O melhor é consultar a coruja Judite e saber algo sobre esse desenho.". 
Logo dito, logo feito.  O Sacifreuderê ventou até a casa da coruja lá no manguezal . Encontrou D'on Judite com um turbante na cabeça tendo diante de si uma bola de cristal. Os caranguejos aguardavam em fila para ouvi-la falar sobre o futuro. 

Freuderê entrou na fila e não tardou a chegar sua vez. Mostrou à coruja o papel encontrado na praia pela Fridoquinha. 

 A coruja olhou, pensou... pensou e depois de um tempo revelou: "Esse desenho, Sacifreuderê, é um mapa de tesouro... Alguém o lançou no mar dentro de uma garrafa para ser trazido pelas correntes marinhas e encontrado. Uhn,uhn, curioso... A primeira indicação começa na casa da vovó! O melhor a fazer é seguir as pistas que vão em direção à foz do Rio São Francisco. Lá encontrarão o que parece ser um navio pirata!".
Sacifreuderê não perdeu tempo. Voltou para casa parecendo uma ventania e contou para a Frida e Marieta o que a coruja lhe disse. Terminou falando sobre a importância de ir em busca do tesouro.
Frida balançou o rabo demonstrando alegria por participar de uma verdadeira busca ao tesouro.

No meio de tanta animação Marietinha perguntou: "Mas o que é tesouro?" Ao que Freuderê respondeu: "D'on Judite falou que tesouro é algo bom e de muito valor. Todo mundo quer encontrar essa coisa!".
Marieta encafifou. Quis imaginar um tesouro: "Tesouro? Coisa? Coisa, coisa, coisa...". Contudo, apesar dos  esforços em pensamentos, continuou sem saber o que era um tesouro.
O desconhecimento não impediu os audaciosos amigos concluirem que, se alguém teve o trabalho de fazer um mapa boiar numa garrafa sobre o grande mar, comunicando  a existência de um tesouro, então o tal tesouro é de fato algo muito importante.
A arara Joaquina que a tudo ouvira atentamente falou: "Iremos cedinho! Essa história me deixou animada e sinto o cheiro de aventura. Não perderia por nada essa caça ao tesouro!".
De repente, sem mais,  Joaquina quedou num sono profundo, como acontece com as araras quando o sol se põe.
No dia seguinte, ao nascer do sol, nossos amiguinhos se puseram a caminho seguindo atentamente as pistas do mapa.
Levaram  uma matula com guloseimas, pois a boa comidinha seria importante para manter-lhes as forças e o ânimo tão necessários aos que se dispõem a viver aventuras. 
Andaram por lindas praias.


Encontraram uma gigantesca rocha, que mais parecia uma pata fóssil de pássaro Dodô, há milhares de anos extinto. 
"Será que é?" Se perguntou Marietinha ultimamente interessada nas pesquisas arqueológicas...
A arara Joaquina voou em busca de possíveis sinais do tesouro e como nunca viu um assuntou : "O que será esse tal tesouro? Se é algo tão valioso, então bem que  poderia ser um balaio cheio com frutos do buriti!". E esse pensamento a encheu de esperanças.                          
Depois de algum tempo resolveram parar para descansar, pois encotraram o ponto onde o mapa mostrava um tubarão no mar. Pensaram ser uma pista importante na busca ao tesouro. Para não perder tempo, o corajoso Sacifreuderê pulou para dentro de um barco vermelho, atracado na praia, e seguiu em busca do temido tubarão, conhecido como o rei dos sete mares. 
O Sacifreuderê navegou tão longe que acabou encontrando o tubarão. Aproximou e perguntou cerimonioso,  conforme se deve tratar um rei dos mares: "Caro Sr. Tubarão, pergunto à Vossa Majestade se, por acaso viu, ou mesmo ouviu algum súdito falar sobre um tesouro oculto nessas águas?  Foi perdido há tanto, tanto tempo que ninguém mais sabe  da existência...".
O tubarão achou muito esquisito aquele gato usando gorro vermelho e cheio de salamaleques no jeito de chegar e de falar. Mesmo que seu apetite pretendesse tornar aquele gatinho falador um apetitoso almoço, ao invés de ficar de prosa com ele, acabou por responder: "Se é algo  escondido há tanto tempo, então como é que eu poderia saber?".
O tubarão mergulhou para outro lado seguindo seu caminho, mas o incansável Freuderê não desistiu. Chamou o tubarão que por sua vez voltou bravo e tiritando os dentes: "Pare de me seguir,  seu almofadinha! Nunca vi um jeito mais estranho de falar! Não sei de tesouro nenhum e se soubesse não diria a você! E não me aborreça mais com tantas perguntas, pois está chegando a hora do meu almoço e posso muito bem te abocanhar e engolir sem que você sequer tenha tempo de contar até dois!". Ao que o Sacifreuderê respondeu com seu sotaque gauchesco ainda mais acentuado pela contenda: "Bah! Mas que barbaridade! Pois que lhe tratei como a um rei e tu me tratas desse modo! 
Bah! Que eu bati na porta errada! Espirra e voa mequetrefe! Deu pra ti! ". E bravo, saiu ventando até a praia, onde chegou atordoado e sem entender o mau humor do tubarão. Pensou que para valer o aborrecimento,  o tesouro misterioso bem que poderia ser uma grande caixa de foie gràs du cocó, seu patê preferido.  

Seguiram adiante até encontrar os dois coqueiros irmãos na beirinha da praia , igualzinho o desenho do mapa. Marietinha cheirou, cheirou vasculhando os arredores. 
Subiu nos coqueiros colheu e abriu alguns cocos tentando encontrar alguma pista do tesouro. Mas seu esforço foi em vão. Assim como o Sacifreuderê, ela também nada conseguira. Imaginou que o tal tesouro bem que poderia ser um balaio de sardinhas frescas e deliciosas.
Caminharam por muitas praias sob o sol quente e vez em quando se refrescavam nadando no mar.

Quando chegaram até ao ponto da praia indicado pelo X, Frida cavou e cavou a areia e  nada encontrou.
Pensou que "um tesouro tão bem escondido só poderia ser uma costelinha de porco assada no bafo e bem enterrada na areia para ficar mais saborosa...".  
Enquanto isso Joaquina sobrevoou o mar e viu algo diferente. Parecia uma baleia encalhada e, pensando bem, quem sabe não seria o navio naufragado? Joaquina se animou e falou com suas penas: " É o navio naufragado? Será? A coruja disse que o tesouro estaria num antigo navio pirata! Tenho que avisar meus amigos.  Ei! Ei!  E N C O N T R E I" gritou para os amigos que, vistos lá do alto, mais pareciam formiguinhas na praia.

Eles ouviram Joaquina  e viram ela pousar perto deles, junto aos destroços do navio naufragado. Aproveitaram a maré baixa e também foram até lá. Entraram cuidadosos sem saber o que iriam encontrar. Mas não demorou nadinha até Frida cheirar e encontrar o baú.
Abriram e ficaram encantados com o brilho que emanava lá de dentro. Estava cheinho de joias raras. Frida pegou uma caixinha cravejada de pedrinhas de brilhantes e se encantou com a música que tocava dentro dela. Marietinha viu moedas de ouro e achou lindo o brilho dourado, mas não sabia o que fazer com elas. Joaquina encontrou pérolas e comeu todas pensando que eram apetitosos coquinhos.










O Curioso, chegou mais perto para ver o que havia dentro. Retirou a tampa deixando escapar fumaça branca em círculos, ao mesmo tempo, o navio começou a desencalhar fazendo um barulho assustador.
A fumaça se transformou em neblina tornando o céu alaranjado fazendo os aventureiros amigos sair bem rápido do navio. "Corre, corre que é assombração! Te esconjuro coisa ruim, seja lá o que você for!", disse Joaquina apavorada, enquanto voava para o alto de um coqueiro.


Saiu um Saci  de dentro do tonel e estava  tão faceiro que desfez todo o medo dos amigos, que a tudo assistiam lá do coqueiral. 


Aos poucos se aproximaram do navio e admirados ouviram o Saci dizer: 
 "Obrigado Sacifreuderê e amiguinhas! Eu estava aprisionado nesse navio há infindáveis anos e vocês me libertaram. Sou o Sacitererê e fui aprisionado por um pirata que veio assaltar os navios cheios de pimentas e madeiras para vender em Portugal. Eu estava fazendo sacizisses pelas redondezas e vi um corre corre na praia. Vi muita fumaça e tiros de arcabuz e canhão. Os índios correram para  a mata atrás de alguns dos malfeitores que fugiram, enquanto os marinheiros atiravam contra o navio pirata. Entrei na luta rodopiando e ventando para aterrorizar vários deles.
Puxei o pé de uns e as orelhas de outros. Tentei amarrar o mais malvado e, antes que eu conseguisse, ele  me capturou e me colocou dentro do tonel dizendo: " Je suis Dampier!"



O pirata mandão conseguiu me pegar,  e então, traquinas como sou, tão rápido quanto ele me pegou, tomei dele o tapa-olhos que uso até hoje! Esse Anhanguera - pois era assim chamado pelos índios - acabou devorado pelos guerreiros da tribo. E o baú do tesouro, roubado dos Perós junto com as mercadorias,  afundou com o navio.".
Depois de saltitar e rodopiar, o Saci continuou falando: "Num dia vi você, Sacifreuderê, ventando nessa praia e então alimentei a esperança de pedir ajuda.
Por meio de uma pequena fresta no tonel, consegui enfiar o mapa que desenhei dentro da garrafa velha de rum que estava ao lado do tonel. E o mar se encarregou de transportar através das correntes d'água."
O Sacifrteuderê confessou: "Pensei que o tesouro fosse um carregamento de foie de cocó!",  e Fridoquinha disse: "Pensei que tesouro fosse uma costelinha de porco assada no bafo!". Joaquina contou decepcionada: "E eu pensei que fosse um cesto de coquinhos de buriti!".
Marietinha, atenta ao que cada um imaginou ser o tesouro, concluiu: "Mas o tesouro é tudo que está no baú, e do que há nele, nada é bom para nós."
O velho Freuderê, sempre amoroso, compreendeu: "Bah,Sacitererê! Agora consegui compreender o que é o tesouro que tu mapeastes pra nós! O tesouro é o amigo e irmão! és tu, guri, és tu!
Eles voltaram para casa deixando para trás o baú. Caminharam pelas praias brincando felizes por levar consigo um tesouro de Saci! O Sacitererê.
Mas, vez ou outra caia do céu umas bolinhas brancas em suas cabeças.  Eram as pérolas que a arara Joaquina comera pensando ser coquinhos...

                                               Praia de Lagoa Azeda, AL, Brasil.

Creditos.
A foto de satélite do Google Earth mostra o mesmo navio naufragado fotografado pela vovó na praia de Miaí, AL, Brasil.