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16 - A revelação



Amanhecera e a Festa Universal seguia animada. Pocotó pastava, enquanto os pequenininhos montavam querendo aprender a cavalgar. O paciente cavalo atendeu ao pedido para uma voltinha até a beira da praia.

Desde muito cedo os meninos já estavam de pé. Mal conseguiram dormir na noite anterior, afinal queriam aproveitar ao máximo as férias de verão junto com crianças dos quatro cantos do universo - se é que universo tem canto 🤔 ...
Assim fizeram e as brincadeiras ajudavam a desbravar os mistérios.
Os novos amigos queriam muito saber como funcionavam aquelas máquinas marítimas, pois se admiravam das gentes a navegar em mar profundo com aquilo que lhes parecia mais uma casquinha de castanha do Brasil.
Eram realmente férias especiais e os acontecimentos que narro a seguir são a prova disso. Mas, comecemos pelo começo desta aventura...
Uma garota bem diferente se aproximou de Carlos para conversar. Curiosa, ela queria saber como eram os garotos terráqueos.
Mimô - era este o seu nome - estava animada e irradiava sua alegria através de suave auréola ao redor de cabeça. - "Moro num sistema solar próximo ao centro da Via Láctea. Conhecer um sistema periférico é magnífico! É poder experimentar um pouquinho de como foi o início da formação de meu próprio povo há bilhões de anos.".
Carlos sabe que seus pensamentos são como falas para os visitantes extra terrestres e certamente não seria diferente com Mimô. Essa ideia o perturbou e o colocou numa aflitiva contenda consigo mesmo. Começou uma briga com os próprios pensamentos pedindo a eles que se mostrassem melhores, bonitos, inteligentes, ou ao menos encontrassem um abrigo seguro para se esconder. Mas não obteve sucesso nestes esforços:
- "Não consigo parar de pensar!". Entendeu que neste embaralho de temores só lhe resta ser livre para ser quem é. - "Não tem outro jeito mesmo..." disse dando de ombros. Deixou de lado um certo acanhamento arriscando dar asas aos pensamentos como eles surgiam: -" Ela tem três pernas; é branca como a nuvem; se parece muito com as nossas girafas...".
-" É mesmo, Carlos! - Exclamou Mimô antes mesmo que ele completasse seu pensamento - Estudei sobre seu planeta antes de vir para cá e as girafas são como nós, só que amarelas com manchas marrons, talvez sejam minhas parentes, assim como são os Girafanos de Andrômeda. ".
(Os girafanos 👆)
Mimô continuou: - " Também vi, em minhas pesquisas, bilhões de outros seres diferentes e tantos o são aqui, quanto em todo o universo. Acho incrível como vocês do planeta Terra não saibam disso!" .
Enquanto Carlos conversa com a simpática Mimô, Bolo, o filho da Biscoito, brinca com Luis e conta a aventura de vir à Terra pela primeira vez.


- "Moro num planeta de galáxia muito, muito distante, impossível de ser vista daqui. No meu sistema solar não existe noite porque tem três sóis. Acho muito estranho quando escurece neste lado da Terra e vocês dormem.". -"Sério! - exclamou Luis - Então lá deve ser 3 vezes mais quente e mais claro do que aqui.". Ao que Bolo esclareceu

- "Meu planeta fica na décima órbita bem longe dos três sóis, o que faz a temperatura ser semelhante a da Terra. Tudo o mais é diferente. Lá tem outros seres que nem tenho como descrever para você - Disse enquanto olhava ao redor - não vejo aqui nada comparável... Contudo, a vida exuberante deste planeta me dá vontade de ficar nele para sempre. Vamos aproveitar e brincar muito enquanto estou aqui e quando for embora pedirei ao Comandante Intergalátctico que propicie a você ir até o meu plane passar férias comigo!".
O Comandande Zuumun se aproximou avisando:
- "Chegada a hora de Carlos e Luis se iniciarem nos conhecimentos cósmicos. Vou levá-los ao primeiro aprendizado, mas antes trocaremos suas roupas pelo uniforme da Federação Ashtar Sheran. Usarão os macacões operacionais, caso o Mestre Interestelar convide vocês para ir a algum lugar."
Os meninos olharam para si mesmos e de imediato se viram vestidos com os macacões que Zuumun acabara de falar...
Eles perguntaram ansiosos - "Quem é o Mestre Comandante Interestelar? É o soberano do Universo? O mais forte e invencível ser das galáxias?".
- "Logo, logo ele estará aqui e vocês poderão conhecê-lo pessoalmente. Agora darei a vocês algumas informações sobre a biologia terrena. Será um pacote de dados necessários para acompanharem com bom raciocínio a experiência que terão hoje. Prontos?".
Assim dizendo concentrou seus grandes e profundos olhos nos dois aprendizes de astronautas e transmitiu virtualmente o conteúdo a saber.

A reação dos meninos foi: - "Uau!!!" melhor que um ano de escola!".
Carlos gostou tanto que disse em alta voz -"Tendo Zuumun como meu Mestre nunca mais precisarei estudar! Adeus escola!".
Zuumun esclareceu de imediato: - "Não é assim que acontecerá, Carlos. A nossa primeira Lei Universal é não interferir nas questões das civilizações planetárias. Tudo deve seguir o próprio curso, como um rio que percorre o leito sobre a terra antes de desaguar no mar.".
Carlos ficou profundamente decepcionado e reagiu -"Isto não é justo! saiba que este é o pior dia de toda a minha vida e a culpa é sua, Zuumun!".
Tão grande foi sua tristeza misturada à raiva que algumas lágrimas brotaram em seus olhos. Zuumun disse a ele: -"Enxugue suas lágrimas e reavalie sua vontade. Se decidir que a sua raiva será tão, ou mais forte que a sua curiosidade, me dirás e seguirás em frente no seu propósito. Caso considerar difícil suportar os limites aos acessos das informações futuras, poderá então adiar, ou mesmo escolher nunca querer ser um cosmonauta da Federação. Não se preocupe. Não faça nada que não queira, ou que não se sinta preparado. Esperarei enquanto toma sua decisão.".
Assim falando, levitou e esperou...
Os desafios pareciam intransponíveis para Carlos. Ele insistiu ao perguntar: - "Mas não posso aprender pelo menos a metade de tudo o que podes me ensinar através do seu método?" E sem resposta ele ainda tentou - "Só 1/3 de tudo? - Vai, por favor aceite...".
Contudo, de nada adiantou. Passados alguns instantes Carlos ponderou sensatamente e decidiu: - "Você pode me receber como seu aprendiz da maneira como sou?"
Zuumun repondeu:
- "Sim, Carlos. É por isso que estou aqui. Por isso espero por sua resposta. Afinal somos todos espelho uns para os outros e tudo o que vocês são eu também sou. Se aprendem comigo, o mesmo movimento se reflete em mim e também aprendo ao me ver em vocês naquilo que ainda não sei em mim mesmo. Se você e se Luis não pudessem ser como são, jamais seriam convidados pela Federação Ashtar Sheran. Muitos não conseguem ser quem são e jamais poderão participar.".
Luis reclamou ainda com lagrimas nos olhos: - "Nem podemos esconder nada, já que vocês sabem tudo o que pensamos... nem temos escolha...".
- " Creiam - disse Zuumun - não demorará até conseguirem se comunicar conosco telepaticamente fazendo parte da rede cósmica, mas isto é assunto para depois.".
Neste momento um pequenino ser azul meio acinzentado apareceu do nada. Os meninos nem se assustaram.
Depois da conversa esclarecedora com o Zuumun nada mais perturbou os dois rapazinhos. Ao contrário, sentiram o recém-chegado serzinho estranho como amabilíssimo sem mesmo precisar apresentações, ou trocar palavras, como se já o conhecessem. De fato foi muito bom que tenha aparecido naquele momento. Foi ótimo ter com quem brincar depois dos momentos tão difíceis.
Os meninos não tiveram dúvidas, se entreolharam e convidaram o pequenino falando ao mesmo tempo - "Vamos jogar bola?".
Luis pensou que o pequenino era uma criança. Jogaram e conversaram animadamente.
Depois de um divertido jogo no campinho da praia o pequenino ser se apresentou dizendo: - "Chegada a hora de me apresentar a vocês. Meu nome é Dómîlá*, como o som das notas musicais, e o Universo é o meu lar.
-"Como assim? - perguntaram os meninos - seu nome é musical e você mora no meio do nada infinito? Na verdade, Dómîlá, você é muito esquisito... - disseram os garotos se entreolhando desconfiados - Apareceu do nada, brincou conosco, tem um cabeção cinza azulado e as perninhas finas. Por acaso você é um super-herói? Ou Deus?"
- "Não, sou como vocês, parte da existência, e também como o que vocês chamam Deus. Eu sou, eu existo, apenas isso. Estou aqui hoje como o Comandante em Chefe da Confederação Intergaláctica para que me conheçam.".
- " Sério? Disseram os dois atônitos em uníssono - Ah! Isso é uma pegadinha! Somos aprendizes novatos e querem fazer troça conosco. Certamente você é um aprendiz veterano. Não vamos cair nessa! Quem vai acreditar que um minúsculo fracote é o maior Comandante do Universo? Nós é que não!". Em seguida deram altas gargalhadas pensando ter desmascarado um impostor, mesmo sabendo, lá no fundo de si mesmos, que aquele ser pequenino era mesmo quem dizia ser.
Dómîlá esperou passar aquela gargalhada nervosa e continuou: - "Seu planeta precisa evoluir para se desenvolver verdadeiramente. Caso queiram, serão iniciados nos altos conhecimentos universais e plantarão aqui as sementes dos saberes adquiridos. Agora, para me conhecerem como de verdade eu sou...".
Dómîlá começa a retirar seu próprio rosto como quem retira uma máscara.
Um momento... e os meninos se admiram. Não conseguem crer no que estão vendo!
Abismados, resolvem sair correndo!

Logo percebem que não sentem medo, mas encanto e bem estar.
Dão meia volta retornando a tempo de ver o Mestre Dómîlá retirando aquilo que lhes pareceu uma máscara e se mostrar como de fato é.
Ao estarem ali parados, frente ao Mestre, eles ficam maravilhados diante do improvável, do imponderável.
Sentem fazer parte daquilo que não compreendem, mas tem uma infinita aura de pertencimento, suavidade e paz inundando a eles e ao mundo todo.
Tinham a sensação de penetrar na alma do universo.
- " Será que todo o mundo está vendo o mesmo que nós?" - Perguntou Luis ao que respondeu de imediato a si mesmo: - " Claro que não. A praia está vazia.". Mas viu a Fridoquinha chegar correndo no coqueiral.
A intensa luz escapa conforme a máscara vai sendo retirada. Lentamente, pois o Mestre sabe que sua intensidade poderia cegar os meninos - frágeis humanos feitos de água.
O Mestre segue retirando a máscara até que ele todo em luz se revela...
Se os meninos ainda nutriam alguma dúvida, ou medo, naquele momento se dissipou. Uma experiência assim é algo irrevogável, plena. A turma toda da casa da Vovó se aproximou. Não perderiam por nada aquela aventura dos meninos!
Eles se sentiam flutuar... leves e felizes. Suas inteligências estavam apuradas, assim como seus sentidos.
- "Vocês estão mesmo flutuando e agora iremos conhecer a vida a partir de um outro lugar. ". -
"Legal! Em qual dos planetas iremos Mestre? - Perguntou Luis. - "Iremos até a folha do coqueiro mais alto. Vejam, olhem para vocês. Neste momento são duas larvinhas de broca. Iremos ao mundo em que as brocas habitam. Por isso Zuumun lhes ensinou um pouco sobre a biologia.".
Os meninos olharam e constataram a transformação. Se sentiam mesmo diferentes, eram mesmo larvinhas! Se perceberam subindo ao mesmo tempo em que diminuíam com a ajuda de Zuumun, já o Dómîlá se espichou rapidamente até alcançar a folha mais alta do mais alto coqueiro.
Quando Carlos e Luis chegaram na folha mais alta, viram um enorme besouro vindo em direção a Dómîlá que os esperava mergulhado num breve cochilo.
De imediato os dois meninos griaram: - "Mestre, cuidado! Atrás de você tem uma enorme Broca com as patas estendidas!". O Mestre acordou com o chamado e exclamou acolhedoramente:
- " Chegaram! Bem, não se preocupem, pois assim como converso com vocês, também converso com a broca e todos os seres existentes. Acontece que ela está atenta aos movimentos dos pássaros para que eles não lhes comam os filhotes, ou seja, as larvinhas, ou seja vocês.".
O Sacifreuderê, a Marietiniá e Profridência já estavam na folha depois de serem diminuídos e levitados por Zuumun e ao ouvir o que dizia Dómîlá o Sacifreuderê reagiu pesaroso: - "Báaaarbaridade que estou mesmo vendo os pássaros gulosos e ameaçadores! Estando eu tão pequenino e sem a capacidade sacizística de sair ventando, terminarei meus belos e encantadores dias como um verme no papo de um mequetrefe voador."
Após passar seu desalento pensou com seus bigodes: se Dómîlá parecia tranquilo ao estar ali, tão pequeno como ele e como os outros, então não havia com o que se preocupar, afinal o esquesitinho transmitia uma segurança serena e nenhum medo de ser devorado por pássaros. Assim sendo, Freuderê se aninhou próximo ao Mestre e até tirou o gorro despreocupadamente.
Quando ja estavam todos acomodados o Mestre Dómîlá falou:
- " Meninos, olhem para baixo através das frestas das folhas. O que estão vendo?". - "Nada Dómîlá!" e o mestre continua: - "Mas vocês estavam lá há poucos instantes...". - " Sim, estávamos, mas agora somos incapazes de enxergar algo a não ser o nada. Parece nada haver lá em baixo. Ao que parece as larvas da broca não enxergam além das folhas. Como se aqui fosse um mundo diferente e não uma pequena folha de coqueiro como a conhecemos. É assim que vemos. É assim que sentimos. Dá até agonia pensar que tudo o que conhecemos lá embaixo deixa de existir aqui. Isto é verdade, Dómîlá? Nosso mundo deixou de existir porque não vemos nada? Queremos voltar para casa! Queremos nossos pais de volta!".
A paz que o mestre irradia aquietou seus corações.
- "Vocês aprenderam a primeira lição para ser um cosmonauta. Podemos descer! disse o mestre feliz e animado.
- "Mas mestre, o que poderá nos ensinar saber que as larvas não enxergam além das folhas onde habitam? - " Agora vocês têm o conhecimento passado por Zuumun e a experiência de ser larvas de broca. O que conseguirem compreender juntando estes dois ensinamentos resultará em aprendizado. Agora vamos descer! Mas não sem antes agradecer à broca, às larvinhas, aos pulgões e aos ácaros que tão gentilmente nos receberam...".
Assim feito desceram da mesma maneira como subiram.
Domilá anuciou sua partida.
Despediu-se com alegria e um gesto cordial de luz. Acompanhou os meninos até a porta de casa para mais um momento juntos antes de partir.

- "Ah! tantas perguntas queremos fazer... Tantas curiosidades à investigar... e o amigo Dómîlá vai embora!".

Aquele a quem os meninos acharam estranho, na verdade mostrou ser a revelação primeira na jornada de tornarem-se cosmonoáutas: O Comandante Intergalático é sábio e não chefe mandão.

- "De agora em diante estaremos sempre comunicáveis. O Comandante Zuumun cuidará diretamente da primeira etapa dos ensinamentos. Continuem sendo quem são e aprimorando seus sentimentos e conhecimentos, assim crescerão pessoas que constroem e não pessoas que destroem. Até breve meus queridos novos amigos!".

***

Carlos e Luis, assim termina mais uma aventura que a Vovó Yesmin criou para vocês!

Créditos

Dómîlá é um nome inspirado no relato do contatado Gen. Moacir Uchôa

2 - Livre criação artística inspirada por relatos públicos do Prof. Laércio Fonseca, Marcos Cabral, dentre outros contatados.





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