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12 - Uma festa universal!

D'Judite se afubelou com um danado de um caranguejo. 
Se ela estava no mangue, lá estava ele chamando por ela. Se ela ia até a casa da Vovó, ele ia atrás...  
- Esse caranguejo tem boca pequena - pensou ela - não consegue dizer o que quer. Mas fiquei intrigada e encontrarei um jeito de conversar com ele e perguntar o que está acontecendo. Assim fez.
O caranguejo andava para lá e para cá e a coruja Judite percebeu que ele falava através do som das batidas de suas dez patinhas no chão. 
- Huummm... matutou - Lembra muito o código Morse que aprendi numa antiga enciclopédia.  
Então atentou, assuntou, pesquisou até entender o que ele dizia. Só depois do caranguejo dar muitas patinhadas em cima do muro, a coruja decodificou.
- Enfim D'Judite me compreendeu.  - pensou aliviado - Preciso que ela veja novamente meu futuro.
Foram para o mangue onde o caranguejo voltou a patinhar contando o que aconteceu com ele depois de D'Judite ver a sua sorte através da bola de cristal.
- Naquele dia você disse que eu viajaria muito, mas achei que era invenção sua, brincadeira para se distrair.
- Foi isso mesmo - disse a coruja - não leve a sério, eu só estava curiosa para saber como é possível ver o futuro. Não vi nada, mas só falei o que me veio às idéias...
- Engano seu - retrucou o caranguejo - você repetiu o que aqueles dois disseram de dentro da bola de cristal e se não foi você quem os colocou lá dentro, fico ainda mais agoniado.
D'Judite achou que o pobre caranguejo estava impressionado demais, mas nada do que ela disse para tranquilizá-lo surtiu algum efeito. Sendo assim, quando o caranguejo pediu a ela que olhasse novamente a bola de cristal, concordou. Se não o fizesse ele certamente continuaria encafifado, andando atrás dela. Não lhe daria sossego. 
Vestiu-se de vidente, colocou seu turbante e instalou a bola de cristal num tamborzinho improvisado.
Os caranguejos ao redor começaram a formar fila e ela rapidamente os dispersou dizendo que só atenderia aquele aflito caranguejo. 

Passou graciosamente suas asas ao redor da bola fingindo se concentrar declamando assim:
- Asinhas vão, 
Asinhas vêm!
Venham mostrar a sorte
E o futuro de meu bem! 

O caranguejo começou a patinhar gritando em Morse com as patas: olha, olha! lá dentro! Não falei?
Mas a coruja nada via... Na verdade ela não quis comentar, mas pensou que o caranguejo estava mesmo ficando doidinho. 
- Desisto! Disse ela recolhendo seus apetrechos de vidente. E nem percebeu que os dois seres  já estavam do lado de fora, enquanto recolhia a bola para guardar.
D'Judite voltou para a casa da Vovó e esqueceu o assunto.
O caranguejo, que ali permanecera, viu que aqueles dois também tinham a boca muito pequena e não conversavam através dela. 
Em seu ouvir de caranguejo ouvia pelos ouvidos quando a coruja falava e aos que, como ela, também tinham bico, ou os que tinham boca grande, como o Sacifreuderê, Fridência e Maretiniá.  Contudo, a esses dois, ouvia com o pensamento. 
Eles falaram pouco. O suficiente para o caranguejo compreender que era convidado a viajar com eles e ver a Terra a partir do Céu. 
- Não, não, não - respondeu o caranguejo - a gente vai lá para o Céu só  no dia do encontro com o Grande Caranguejo e de lá não volta mais. Então não quero. Além disso a coruja disse que vocês não estão aqui de verdade...
Ao que responderam os dois desconhecidos:
- Nós usamos a capa da invisibilidade e por isso só você nos vê. Somos Keulin e Kituin. Viemos de um distante planeta ao redor de outra estrela, diferente do sol. 
- Não, não, não - disse o caranguejo - o Sol é sol , não é estrela. 
E Keulin e Kituin achando graça disseram afetuosamente:
- As luzes da cidade não alcançam as estrelas, mas os seus olhos sim. Venha conosco e verá por si mesmo.
O caranguejo desconfiado e embasbacado diante de tantas esquisitices, resolveu embarcar nessa curiosa viagem. 
Lá se foi o caranguejo viajante rumo ao espaço cósmico.
Enquanto isso, na casa da Vovó, a arara Joaquina sentia suas penas arrepiarem a todo instante. Vibrou satisfeita: 
- Arre, quando sinto esses arrepios sei que começa uma grande aventura! 
Ao mesmo tempo, longe dali, o Sacifreuderê voava pelas bandas da Serra do Camaragibe criando ventanias. Ele adorava ver as folhas e flores do canavial dançando quando ele passava...
De repente parou assustado ao ver uma grande máquina voando devagarinho sobre sua cabeça. 
- Mas que baaaarrrbaridade! que eu nunca vi algo assim! Parece um imenso M'baêtatá!
Voou ligeiro para casa na esperança de saber o que era aquilo. 
(Detalhe do susto do Freudão) 
                                                                                                                          
 Ventou numa velocidade impressionante até a casa da Vovó querendo saber de Fridoquinha o que seria aquilo!
Frida nada vira ainda, mas já estava com suas anteninhas ligadas... Pressentira algo acontecendo e logo logo ela saberia. Logo tudo se clarearia, afinal, desde que  se tornou Profridência tudo se clareava a tempo para ela. 
E assim aconteceu. Sua luzinha começou a piscar providenciando a boa calma. Até Maria Farinha, ao seu lado, se acalmou e entendeu o momento.
Sacifreuderê e D'Judite se juntavam à Fridoquinha quando, espantados, viram uma nave espacial descendo na praia trazendo de volta o caranguejo.
Ora, ora... ali estava o intrépido caranguejo contando sua aventura para eles. De como havia sido contactado e convidado a viajar numa espaçonave; de como recebeu um chip magnético que deu a ele habilidades telepáticas. 
Enquanto o caranguejo falava percebeu que, além da telepatia, também conseguia enxergar além da pele de seus amigos e se encantou por ser capaz de ver a natureza de luz da Fridoquinha e a natureza de vento do Freudão!
- Não demorei a voltar à Terra - continuou contando - Quando a espaçonave passou próximo da estação espacial terrestre ISS eu vi Marietiniá sentada acompanhando o trabalho do astronauta. Eu sabia que ela não poderia me ver dentro da nave, mas pude vê-la e também ouvir seus pensamentos dizendo assim: "Durante o período em que vivi na Terra imaginei o céu apenas como o teto de tudo...". Foi apenas o possível de ouviu de Marietiniá, pois a nave é veloz e se afastou tão rápido quanto um raio para a reentrada na Terra.
A incrível história do caranguejo trouxe ao Sacifreuderê uma lembrança de sua própria experiência e passou a contar... 
- Barbaridade que agora entendi tudo! Eu também já fui abduzido por um estranho ser em uma máquina barulhenta. Primeiro tentou me enganar com uma conversa fiada. Dizia que me pegaria no colo, e disso  já não gostei! Quando percebi a intenção de me levar à força tentei fugir, mas o mequetrefe foi mais rápido que eu! Me carregou e me prendeu como se prende um Saci numa garrafa, sem me dar a chance de poder fugir! Barrrbaridade!!! que me borrei nas "bombacha"! Chegando à nave mãe me passaram uma máquina barulhenta cortando os "pêlo" da barriga e dos "fundilho", cortaram-me também as unhas para algum experimento de DNA, por certo. Me passaram cotonetes nas "orelha" e me tombaram numa tina d'água cheia de espuma pr'eu me afogar! Só de lembrar me arrepio!
Não Freuderê! eu estava lá e vi quando tudo aconteceu... - esclareceu Judite - Se acalme, pois foi a Bete do Pet que veio, a pedido da Vovó, te buscar para um banho.
- Impressionante! resmungou ele, meio aliviado e meio decepcionado.
Tudo isso aconteceu pela manhã, mas ainda atordoado Sacifreuderê resolveu não voltar a sacizar no resto do dia preferindo ficar em casa. As coisas estavam muito estranhas e quando a vida se apresenta assim o melhor a fazer é sossegar. 
Sairam da praia atravessando o coqueiral onde encontraram Pocotó e Joaquina. Fridência contou a eles o que se passara. 
Joaquina se animou, afinal o que Fridência contou justificava as suas penas arrepiarem experimentando o clima adorável de aventura no ar.
Agora em casa só restava esperar pela volta de Marietiniá.
-Baaah! Mas que barbaridade que Marietinha está demorando a voltar - disse Sacifreuderê saudoso - Se demorar mais um dia iremos atrás dela para saber o que está acontecendo. 
Ao que o caranguejo retrucou:
- Não, não, não! Esqueceu que ela está no espaço? Fora da Terra? Eu já falei que vi. 
Começou a roer as casquinhas das pontas das patas até parar e dizer 
-  Estou aqui matutando e acho que já sei o que os ET querem de mim... Acabo de me imaginar construindo uma nave espacial... Não entendo como conseguirei, mas sinto uma enorme vontade de ir para o mangue iniciar um projeto. 
- Se te escolheram, então é porque estás preparado para a missão - concluiu o Sacifreuderê - aliás com uma cabeça tão grande e que lhe ocupa até o lugar da barriga, hás de ter muita inteligência, além dos intestinos é claro! Baaahh, guri! Com certeza és um crânio! A partir de hoje te chamarei assim: Crânio! Crânio é o seu nome.
Mas, o que eles não sabiam é que naquele momento Marietiniá voltava para casa...

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Marietiniá descansou um pouquinho de sua longa viagem pela galáxia sentada na Estação Espacial Internacional, a ISS.
Enquanto o seu novo amigo astronauta trabalhava na manutenção daquela intrigante casa espacial, ela ficou por ali admirando a vista e tentando enxergar, a partir de lá, a casa da Vovó. Aproveitou para olhar o planeta Terra como ela nunca vira até então. Uma imensa bola azul! Linda! 
A ISS deu uma volta completa em torno da Terra, mas Marietiniá não conseguiu avistar a casa e nem mesmo a praia. 
- Agora vi, a partir do céu, como é a continuação do chão ao infinito... - pensou com seus bigodes.
Mas era hora de voltar para casa. O astronauta sorriu feliz por ter a companhia da visitante peluda, e lhe deu um tchauzinho.         
Lá se foi Marietiniá! a pequenina estrela - voando como um foguetinho, de volta para casa.
                         
Quando voltou resolveu parar antes no manguezal. Sentiu a maresia refrescando o calor q, afinal, havia acabado de sair do frio espaço cósmico, onde brilham as estrelas, para os calores tropicais das Alagoas. Seu lindo cocar reluzia ainda a intensidade estelar. 

Aquietou-se no mangue. Parada ali lembrou  das 7 noites nas quais brilhou como estrela no céu do Japão, conforme prometeu ao seu querido Samurai Baru Norberto.  
Quando o Pagé daquela tribo ancestral que conhecer na Serra da Capivara lhe deu alguns dons de estrela, ela jamais imaginou ser capaz de voar para a imensidão que está depois do céu azul. Aliás, ela nunca pensou que as estrelinhas da noite ficavam para além do céu. 
Lembrou também como aproveitou os dias e viajou por toda a galáxia. Graças aos seus novos dons percorreu a Via láctea, a imensa avenida com chão de estrelas onde a outros terráquios é impossível transitar. Conheceu infindados lugares e fez muitos amigos por onde passou.  
Marietiniá estava absorta em seus pensamentos, como acontece sempre com alguém que acaba de redescobrir o mundo. Nem percebeu que Crânio, o caranguejo, havia se aproximado e a olhava com aqueles olhos esquezitinhos saltando de sua cabeça, até que o tic-tic das suas patinhas batendo no chão a fez olhar ao redor.
Se afastou pensando ser um daqueles caranguejos cabeçudos que sempre gostam de pinçar suas patinhas quando vai visitar D'Judite no mangue. Não queria ser beliscada. 
_ Não, não, não, não, não - falou o caranguejo interessado - Não sou da gangue do beliscão! 
Marietiniá suspirou aliviada e continuou em seus pensamentos. Mas, o curioso caranguejo queria conversar e ficava andando prá-lá e prá-cá, enquanto esperava Marietiniá sair daquele ensimesmamento e lhe dar alguma atenção. 
Não demorou até que o tic-tic do andar do caranguejo trouxesse de volta a atenção de Marietinha e aguçar sua curiosidade sobre o caranguejo agoniado. 
"Afinal - pensou ela - ele é paciente e educado, então deve ter coisas interessantes a dizer.". 
E o caranguejo começou a falar... Mas antes, ainda pouco acostumado com sua visão aperfeiçoada, estranhou ver dentro da estrelinha Marietiniá um novo serzinho que se preparava para nascer e pensou:
- Se ela trás em si o dom das estrelas, então é natural que gere vida. Afinal, somos todos feitos  de elementos estelares. Roeu rapidamente a casquinha da ponta da pata e falou com Marietiniá.
- Fui convidado e levado a passear pelo entorno do planeta e adjacências. Quando de volta te vi na ISS olhando admirada para a Terra. Os amigos que você fez em sua viagem galáctica, e que me levaram com eles na nave espacial, me pediram para dizer a você que amanhã virão passar um dia na praia da casa da Vovó. Jamais fizeram isso antes, mas quando te conheceram entenderam que nem todo terráqueo é perigoso e que alguns trazem dentro de si a semente da boa convivência. 
Marietinha, feliz, voltou para casa e teve muito o que contar aos seus queridos amigos. E conversaram muito até o sono da noite chegar. 
Nem amanheceu o dia e os amigos estelares de Marietiniá começaram a chegar. Eram de várias partes do universo, mas a alguns veio da base e entreposto de Marte.
Chegaram na madrugada e Arará, D'Judite e os Sapitos ainda dormiam na varanda.  Mocorongo estava bem desperto e dando seus adorados vôos rasantes noturno.
A nave espacial tinha uma luz tão forte que fez a noite parecer dia.
Nela chegaram os felinos, os violácios e os verdinhos.
Estes últimos eram os mais animados para ir à praia e, mal o dia amanheceu, correram para lá!
Em seguida surgiu no céu a enorme nave mãe com centenas de pessoas. A essa altura, Sacifreuderê, Profridência e Marietiniá já estavam na praia para recepcionar. 
- Baaarrrraridade! Essa é a grande nave que sobrevôou a Serra! Reconheci. A praia se tornou uma grande festa! 
- Uma verdadeira festa universal disse Crânio.
A Nave mãe emanava tanta energia que precisava ficar distante da praia para não ferir ninguém. De repente lançou uma luz curva que conduziria seus tripulantes até a praia. 
Fridoquinha, boquiaberta, não acreditava em tantas lindezas que via... Até a Catarrinho grudou no gorro do Sacifreuderê para ir a tal festa.
E lá vinham os visitantes. 
Cada qual com sua natureza. Uma belezura!                                       
Os únicos que Fridência e Freuderê conheciam eram os venusianos, pois graças à Catarrinho puderam ir à Vênus e ajudá-los numa hora de aperto.
Quando pareceu não ter mais visitantes a chegar, viram os canídeos se aproximando num pequeno disco voador.  Foram logo saudados por Karran e Zirr, que já conheciam muito bem a Terra e logo se enturmaram com a Bete do Pet que lhes emprestou a moto.
O grande sonho desses amigos celestes era aproveitar o mar. E assim fizeram. Juntaram-se para nadar com arraias, golfinhos e tubarōes. Fizeram uma divertida pesca de arrastão, mas depois devolveram os peixes para o mar, afinal não estavam com fome e a Vovó preparou umas quitandas e também ia colocar mais água no feijão.
Assim termina a aventura de Marietinha. A aventura de ter amigos é a mais divertida de todas.

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Mais uma fábula da Vovó para Carlos Eduardo e Luis Antônio. também para quem mais gostar.
Amor, 
Vovó.

Créditos:
1- 
Foto de J.R. dos Prazeres para o jornal Estado do Pará. 
Esta foto foi confiscada pela Aeronáutica, que comandou a Operação Prato em Colares, PA-Brasil, juntamente com outras fotos e vídeos do referido fotógrafo em 1978.  Atualmente grande parte do acervo da maior operaçāo militar brasileira para a investigaçāo de OVNIS está disponível ao público no Arquivo Nacional do Brasil.
2-

Também a nave dos personagens Keulin e Kituin é um desenho do relatório da mesma operaçāo, igualmente disiponivel ao público no Arquivo Nacional. 
3-
Para a nave māe baseei meu desenho no relato do Comandante da Operaçāo Prato, Capitāo Uyrangê Hollanda da FAB.
4-
Karran e Zirr são extraterrestres do caso público de Hermínio e Bianca e relatado por eles mesmos publicamente em 1978.
5- 
As fotos da ISS foram feitas da tela da TV pela Vovó em transmissão pública 24h para quem quiser assistir em canais de agências espaciais.

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