Todo esse movimento era da Frida que, muito animada, andava para lá e para cá, ora pegando seu pijama, ora o cobertorzinho, e quase se esquecera de pegar mais um ossinho de reserva, só para saborear quando tivesse fome.
Acordara naquela madrugada decidida a sair para passear. Após todos os preparativos vestiu seu lencinho vermelho, passou na casinha da árvore onde Marieta dormia e disse:
“Bem Marietinha, assim que voltar do passeio contarei a você e ao Freuderê tudo em detalhes. Diga a ele que ficarei com
saudades..."
Então, deu um cheiro na gatinha e partiu.
Marieta sequer teve nem tempo de perguntar para onde Frida ia...
Tudo isso aconteceu logo depois da Chuva do Cajú, no início da Primavera, no dia em que o Carlinhos colheu o primeiro
cajuzinho vermelho da temporada...
Carlinhos colhendo o cajuzinho do cerrado!
Marieta dormia na toca da manilha, sonhando sonhos de caçar lagartixa. Em seu sonho a lagartixa esperta
acenava para Marietinha e depois saia correndo, antes de se tornar presa nas garras
afiadas da gatinha.
Mas o sonho
tão divertido deu lugar ao sonhar preocupado com a Frida
e logo despertou. “Ai! Como sou curiosa! Preciso saber o que está
acontecendo”.
Andou pelas redondezas perguntando: “Quem viu a Fridoca?”.
Mas, ninguém sabia dar notícias... Ficou animada quando viu a Arara Joaquina a quem foi logo perguntando : “Olá Dona Joaquina, a senhora viu a Frida?” “Boa tarde gatinha - respondeu a arara. O que há?” E Marieta contou à arara que Frida saiu logo cedinho para passear e como sentia o cheiro de aventuras resolveu saber cadê a Frida..
“Uhnn!... Isso é muito bom.” disse Joaquina.E cafungando no ar falou
com sua voz rouca de arara: “Não sinto esse cheiro de aventuras que você fala,
mas sinto um arrepio gostoso causado pelo vento que passa sob minhas penas e isso para mim é sinal de aventuras no ar. Ajudarei a
procurar voando até o mais distante que
puder ir e voltarei com notícias.”
E, Logo dito, voou! E voou para lugares distantes, mas tão distantes que Marietinha não pode mais sentir o seu cheiro.
Joaquina sobrevoou pastagens, montes, veredas e prados encantadores. O inverno seco terminara e tudo floria.
E, Logo dito, voou! E voou para lugares distantes, mas tão distantes que Marietinha não pode mais sentir o seu cheiro.
Joaquina sobrevoou pastagens, montes, veredas e prados encantadores. O inverno seco terminara e tudo floria.
Os frutos abundavam no cerrado. Ao pensar nisso Joaquina pousou numa vereda e se fartou com os coquinhos dos Buritis e das Jandaias.
Contornou as nuvens e seguiu em frente. Do alto viu os caminhos e trilhas lá embaixo.
Movimento aqui e acolá, mas só movimento de bicho do lugar, às vezes um Mico, daí a pouco um Tamanduá Bandeira, viu também o solitário Lobo Guará ruivo como ele só... Uma beleza! Os raros Veados Campestres que ainda viviam por ali e a toca da Suçuarana, encravada na montanha onde estava tomando sol, toda orgulhosa, com a nova ninhada. Mas, Frida mesmo... Não viu não... Enquanto isso Marieta aguardava ansiosa o final do dia. Queria logo contar ao Sacifreuderê sobre o passeio da Frida. Matutou e perguntou a si mesma: “será que ela foi passear tão longe porque também resolveu virar Sacifridarê?”.
Deixou de lado essa idéia. Frida era muito delicada e por certo não se adaptaria à vida de Saci. “Mas que interesse inesperado é esse que a fez sair tão cedo?” Se perguntava Marietinha.
Ela viu o sol cruzar toda a
curva do céu para transformar seu azul profundo em tranquila aurora alaranjada, e com a aurora o bom e velho
Freud sempre retorna para casa cantarolando:
"Marieta, Porpeta, Fofeta,
Chereta! Lindoca, Paçoca, Fofoca,
“Talvez até já esteja na cachoeira Santa Barbara.”
Disse ele à Marieta. “É seu lugar de pouso preferido. Esperemos até o dia amanhecer. Agora é a melhor hora para passear. Ah! Como adoro a noite! E hoje teremos muitas estrelas no céu!”.
E o bom e velho Freud tinha razão, pois naquele instante Joaquina pousava nas pedras da cachoeira.
Na manhã seguinte a alvorada se derramava generosa na Chapada.
Joaquina parou um instante para ver a luz dourada da manhã e ouvir o passaredo cantar sua alegria para os primeiros raios de sol.
Não tardou a ouvir uma cantoria que vinha do sopé da serra. Na beira do córrego a Seriema fazia coro.
“Mas, repara...
“Vem ver! Na Chapada dos Veadeiros tem
Céu estrelado e o mais lindo luar cor de prata,
Só aqui é que tem!
Só aqui é que tem,
Vem ver..."
|
Parece a voz da Frida fazendo coro com as outras vozes...” Pensou Joaquina. “Ai! Como estou curiosa para saber o que acontece lá embaixo!”.
Desceu do topo da montanha e pousou numa árvore próxima de onde vinha a canção, então Joaquina esfregou os olhos diante do que via, para ter certeza do que se passava. E quando se convenceu pousou desajeitada e por pouco não caiu do galho.
“Mas o que é aquilo? Eu já tinha ouvido falar e achava que era conversa de assombração! Que as Araras ancestrais me condenem se estiver mentindo! Mas... mas... mas... é o Curupira! O Curumin com cabelos de fogo em pessoa! E cá para nós, nunca vi coisa mais esquisita...”.
Joaquina,
ainda sem ser notada, ouviu o Curupira dizer:
“Chapada ‘y Kuá-pe gûirá oby
etá.
Anhanguera sykyîé. Mopanemaetama Kuruca.
Anhanguera
momaranga. aruru. Iasé-o”.
E o papagaio Lourival, que
como todo papagaio adora falar, logo tratou de
contar toda a história: “O Curupira despistou os
Anhangueras com suas pegadas invertidas. O pé do Curupira é pé virado para
trás. Logo o bando de malfeitores, composto por cães danados, correu para o
mato fechado, presa, sem achar a saída, como o Curupira queria. Curupira é ser enganador. Faz pistas erradas para confundir a
todos que queiram machucar os filhos da floresta”.
Ao descobrir o que estava acontecendo Joaquina tomou o rumo de volta. Queria contar a todos o que viu...Freud e Marietinha esperavam o retorno da arara para saber notícias.
Sentiam saudades da Frida e a espera por Joaquina parecia uma eternidade...
Ao descobrir o que estava acontecendo Joaquina tomou o rumo de volta. Queria contar a todos o que viu...Freud e Marietinha esperavam o retorno da arara para saber notícias.
Sentiam saudades da Frida e a espera por Joaquina parecia uma eternidade...
Freud via o sol nascer e espantar a escuridão.
Enquanto Marieta andava pra lá-pra cá.
Os três amigos, Freuderê, Marietinha e Joaquina, decidiram que era hora de ir até a Chapada participar dessa aventura.
Freud não teria problemas, pois era um Saci Freuderê e se deslocava na velocidade do vento. Joaquina era um pássaro e voava, mas e a Marietinha?
Como fazer para levá-la junto!!!?
A solução
não tardou, já que aquelas mentes livres e criativas não se conformariam com o
medíocre. Tomaram uma arrojada decisão: Marietinha iria voando nas asas da
arara Joaquina!
Freud, tão ligeiro quanto o vento, puxou um fio de seu gorro vermelho de Saci e com ele teceu um cinto de segurança Avançado para Marietinha. E Joaquina, muito empolgada por participar da aventura, pousou suavemente no chão oferecendo suas costas para Marieta se acomodar e voar com ela. E foi assim o primeiro vôo de Marietinha.
Estava tão feliz em vê-los, que foi logo chamando a todos para se juntar ao grupo em que gente, bichos e lendário cantavam juntos.
Há dois dias, animada pelos
ventos, Frida vestiu o lencinho de viagem e partiu rumo a grandes passeios ao ar
livre e sem destino, pelo menos foi assim que ela pensou antes de se deparar
com uma aventura maior do que ela poderia imaginar... “Saí para passear - começou contando - quando reparei
numas pegadas de menino. Fiquei encantada pelas marcas dos pezinhos que
pareciam me chamar.
Meu focinho mostrava que eram pegadas especiais, pois quanto mais eu seguia em direção a elas, menos sentia o cheiro do dono daquele pé. Então, percebendo como meus olhos me enganavam, escolhi seguir o meu faro refazendo o caminho inverso.
Ao final concluí o que já me ia às ideias: aquelas pegadas que pareciam vir, na verdade iam. Foi então que meus bigodes se arrepiaram e quando olhei para frente vi o Curupira bem pertinho. Um indiozinho fantástico de cabelos vermelhos igual a chama do fogo, quando pega na madeira e vira brasa incandescente.”.Marietinha ouvia com muita atenção.“Que aventura!" Pensou ela. "Frida não sentiu medo e ficou amiga do indiozinho de pés invertidos. Eu mesma me pélo, quer dizer, me despêlo de medo do Curupira, que tem fama de pregar peças nas gentes que encontra. Agora estou aqui bem pertinho dele.
Meu focinho mostrava que eram pegadas especiais, pois quanto mais eu seguia em direção a elas, menos sentia o cheiro do dono daquele pé. Então, percebendo como meus olhos me enganavam, escolhi seguir o meu faro refazendo o caminho inverso.
Ao final concluí o que já me ia às ideias: aquelas pegadas que pareciam vir, na verdade iam. Foi então que meus bigodes se arrepiaram e quando olhei para frente vi o Curupira bem pertinho. Um indiozinho fantástico de cabelos vermelhos igual a chama do fogo, quando pega na madeira e vira brasa incandescente.”.Marietinha ouvia com muita atenção.“Que aventura!" Pensou ela. "Frida não sentiu medo e ficou amiga do indiozinho de pés invertidos. Eu mesma me pélo, quer dizer, me despêlo de medo do Curupira, que tem fama de pregar peças nas gentes que encontra. Agora estou aqui bem pertinho dele.
“Por enquanto, apesar das minhas patinhas quererem
sair correndo, acho melhor ficar e ver o que acontece.
Freud percebeu que, enfim, as coisas começavam a fazer
algum sentido. Tomou a decisão de ajudar o
Curupira rodopiando como ventania em direção à beira do Rio das Almas, onde a
matilha de cães muito bagunceira fora atormentada pelo indiozinho de pés virados. Saci freuderê olhou, entristecido, a sujeira feita pelos malfeitores.E com a mesma rapidez com que ali chegara, virou pé-de-vento e entrou no ventre da mata até
encontrá-los numa clareira se escondendo atrás d’um pé de Mimosa.
Observou os cachorrinhos tão levados e agora tão atordoados
no meio da clareira onde tentavam, em vão, achar o caminho de volta. Foi então que Saci Freuderê se pôs no
meio da matilha desatinada, como um pé-de-vento repentino, e os cães sequer
latiram para ele, tão assustados ficaram.
O líder do bando malfazejo viu a chegada da Frida e deu suficiência para tranquilizar a matilha.
Mais calmos, com a chegada de uma cachorrinha como eles, ouviram dela o quanto causavam mal aos viventes da mata com seu desleixo. “Ói Dona Frida, a senhora é uma criatura muito bacana, então nóis tá entendendo e vai respeitá o que de um tudo a senhora falô.”
Mais calmos, com a chegada de uma cachorrinha como eles, ouviram dela o quanto causavam mal aos viventes da mata com seu desleixo. “Ói Dona Frida, a senhora é uma criatura muito bacana, então nóis tá entendendo e vai respeitá o que de um tudo a senhora falô.”
Marietinha, que estava participando sentada no alto de
uma árvore junto com a arara Joaquina interveio dizendo:
“Quando faço pipi e tôtô enterro cavando suave e macio fazendo um buraco no chão. Depois cubro tudo bem bonitinho com terra. Cuido do que é meu com bom gosto e alguma cerimônia. Afinal toda a natureza tem sua elegância e beleza. Sendo assim não sei para que fazer tanta sujeira na beira do rio. Quem sabe deve servir para alguma coisa? Porque senão não fariam desse jeito...”.
Lourival, o papagaio, ficou meio sem jeito com o que falou Marieta, mas considerou: “A gatinha, apesar de falar sobre pormenores de sua higiene, está cheia de razão.”. E o Curupira que não sabia falar outra língua senão a língua de índio aplaudiu, pois sabia ouvir e entendia muito bem todas as línguas da natureza.
Enfim, depois de tudo resolvido, voltaram a cantar alegremente ao som da rabeca do Seu Josué, inclusive a matilha com os cãezinhos já aliviados, depois do grande aperto, e muito animados com a cantoria.
“Quando faço pipi e tôtô enterro cavando suave e macio fazendo um buraco no chão. Depois cubro tudo bem bonitinho com terra. Cuido do que é meu com bom gosto e alguma cerimônia. Afinal toda a natureza tem sua elegância e beleza. Sendo assim não sei para que fazer tanta sujeira na beira do rio. Quem sabe deve servir para alguma coisa? Porque senão não fariam desse jeito...”.
Lourival, o papagaio, ficou meio sem jeito com o que falou Marieta, mas considerou: “A gatinha, apesar de falar sobre pormenores de sua higiene, está cheia de razão.”. E o Curupira que não sabia falar outra língua senão a língua de índio aplaudiu, pois sabia ouvir e entendia muito bem todas as línguas da natureza.
Enfim, depois de tudo resolvido, voltaram a cantar alegremente ao som da rabeca do Seu Josué, inclusive a matilha com os cãezinhos já aliviados, depois do grande aperto, e muito animados com a cantoria.
“Vem ver! “Na Chapada dos Veadeiros tem Céu
estrelado E o mais lindo luar cor de prata Só
aqui é que tem, Só
aqui é que tem...”
O Curupira se despediu, mas antes de partir em direção ao mato alto, colheu
uma bela Caliandra vermelha e deu a Frida dizendo em sua língua: “M’botyra
pirang-a i Porang-a” - que quer dizer Flor vermelha bonita. E o Curupira foi embora.
Embrenhou-se mata adentro, pois não gostava de conviver com tantos por
tanto tempo.
Estando já bem distante ele assoviou um assovio longo e belo para a cachorrinha. Frida ouviu o assovio e ficou feliz pelo amor que recebeu do Curupira.
Voltaram todos para casa. Cansados
e felizes depois da fantástica aventura. Frida nunca mais deixou de
sonhar com o valente Curupira! “Vou
sentir tanta falta do Curupira! Meu coraçãozinho até dói...”.
E assim termina essa história. Cheia de amor no coração.
Créditos
A música cantada pelos amiguinhos é do Sr. Josué, artesão e músico e mora nem Terezina de Goiás, Chapada dos Veadeiros, GO, Brasil.