Total de visualizações de página

18 - De Profundis

A luz do dia surgia ainda amena e trazia consigo o incomparável frescor de final da madrugada. Desde que os visitantes do espaço chegaram, Mocorongo realmente se encantou. Era divertido estar com aquela turma! Realmente eles sabiam viver...
Nas noites o morcego levava os curiosos amigos em cada árvore frutífera apresentando os deliciosos sabores tropicais. Uns adoraram os saputis e cajus, muitos outros não precisavam se alimentar para viver e outros decididamente não gostaram do exótico sabor.
 " Esta noite foi divertida, como foram todas as noites desde a chegada deles." Lembrou Mocorongo ao voltar para casa. Ao mesmo tempo em que ele se sentia feliz e animado, algo o perturbava.
 - "Aliás, pensando bem, parece ter uma vozinha falando o tempo todo em meu ouvido... E parece falar justamente durante o dia nas horas que mais gosto e preciso dormir! Certo, certo, mas nada disso importa agora, já estou me aconchegado sob a telha escondidinha e escura no telhado da garagem da Vovó onde os micos, aqueles peraltas, não conseguem chegar.". Disse o Mocorongo já se recolhendo ao sono  profundo.

Agora é manhã chegada. O sol resplandece na linha do horizonte. Aquela linha que marca com perfeição onde começa o azul do céu e onde começa o azul do mar formando um lindo espetáculo.
Os meninos finalizavam os preparativos para sair em expedição espeleológica com Zuumun, desde antes do sol surgir por inteiro. Trabalhavam duro e nem pareciam estar em férias de verão. Estavam empolgados com tanto aprendizado e fazendo tantos amigos que sabiam impossivel férias melhores! 
Antes de seguirem  para o último treinamento na praia, Zuumun pediu à Marietiniá que chamasse Mocorongo para acompanhá-los no trajeto subterrâneo. Ela e os meninos precisariam da ajuda do morcego enquanto estivessem atravessando a escura caverna.  - " Mocorongo tem um ótimo sonar. Poderá guiá-los, caso tenham dificuldades no caminho." Informou ele. 
Marietiniá tomava solzinho da manhã com Fridoquinha e Artur.  Ela estava certa que esta seria uma tarefa difícil e pensou -"Mocorongo não suporta a luz do dia e também é a melhor hora de sono para morcegos.Duvido que acorde, mas ainda assim irei até lá.".  E  foi o que fez. Seguiu até o pomar onde encontrou o Sacifreuderê se preparando para ventar na praia em companhia de Aleph. Ela chamou por Mocorongo uma, duas, três vezes... e nada. Mocorongo não dava sinais de que acordaria para ajudar restando à Marietinha uma atitude radical recorrendo à arara Joaquina, afinal a sua voz forte e de altos decibéis sem dúvida acordaria o dorminhoco. E assim foi feito. Mocorongo acordou com o chamado de Joaquina. 
Ele veio cambaleante e Marietiniá sentiu muita pena do amigo sonado. Percebeu que o pobrezinho mal tinha forças para reclamar com a arara. Com grande esforço Mocorongo falou pensativo como que consigo mesmo: -" Há dias não consigo dormir direito. Ouço vozes.  Pareço ouvir a voz da minha consciência... Mas nunca tive uma consciência assim tão grudenta!  Por favor Joaquina, peço com todo o respeito: 
                                 NUNCA MAIS ME CHAME AOS GRITOS! 
Aliás nunca mais me chame para nada." Concluiu aborrecido. 
- "Mocorongo, eu só estava fazendo um favor! Marietiniá não conseguiu te acordar e me pediu que lhe ajudasse, parecia ser coisa de urgência, de emergência...". Disse a arara ao mesmo tempo triste e  assustada com a reação do morcego. - "Joaquina, se há emergência então é a minha - respondeu ele - Estou ficando louco, ou gagá! Ouço vozes durante todo o dia e não consigo dormir. 
Marietiniá concordou com Mocorongo, de fato ele estava com aparência cansada, em deplorável estado precisando de ajuda imediata para sair daquela situação.  - "Não aguenta mais. Precisa dormir." 
O atento Sacifreuderê  logo percebeu uma diferença no morcego e disse: - " Barbaridade!!!  Resolveu usar piercing! Bhaa! É isso, furou as orelhas atingindo o cérebro! - e completou pensativo e preocupado considerando verdadeiramente tal idéia - Só pode ser...".

O clima estava tenso, afinal ficar sem dormir deixa qualquer um atordoado. Mocorongo começou a ficar vermelho de raiva e avermelhar num crescendo pareceu querer explodir.  Toda essa conversa o tornara desperto e, aos olhos dos outros, parecia estar realmente explodindo. 

Ele retrucou zangado: - "E você, que é um ventilador danado! Usa um gorro vermelho na cabeça e se acha o furacão do pedaço! Que saci danado esse Freuderê!". Enquanto falava  levou a mão até as orelhas para dizer que não colocara piercing coisa nenhuma e ficou paralizado de susto ao sentir o piercing gosmentinho na orelha direita.
Marietiniá precisou acalmar o atordoado amigo.
- " Mocorongo, só pode ser um carrapato.".
Neste momento o, seja lá o que fosse aquele pontinho gosmento, falou com Mocorôngo - " Escute antes de me arrancar da sua orelha! Estou falando com você todos esses dias, mas você não me escuta.".
Mocorôngo, assustado, gritou: " O bicho está falando comigo agora! Que agonia...".  Marietiniá disse a ele - " Então escute com ateção. Você está nervoso e ele também deve estar. Se grudou na sua orelha, então  é alguém procurando ajuda. Mocorôngo falou - " Ouçam! Ouçam! Ele acaba de me dizer que tenta falar comigo e eu não escuto...".
Passada a emoção do susto o morcego se acalmou e silenciou. Agora ele era todo ouvidos para a  estranha história do estranho ser falante ao mesmo tempo em que todos ao redor se aproximaram curiosos: - "Eu nasci no laboratório da Estação Espacial Internacional, a ISS, e pulei na orelha da Marietiniá enquanto ela conversava com o astronauta. 

Foi a chance certeira para fugir. Ouça bem e me entenderás!  Nasci junto com outros tantos micro cérebros e, conforme me desenvolvia, fui entendendo o mundo ao meu redor. Na verdade muitos de nós não atendeu ao padrão seletivo de que precisavam quando nos criaram e, por isso fomos desconsiderados aos propósitos devido a característica de ligar razão com emoção. Os astronautas planejam instalar (leia-se: “ligar na tomada” e pronto!) os cérebros em um laboratório permanente na Estação Espacial Internacional. Ouvi claramente quando conversavam: “Os cérebros são autônomos, mas nós conseguimos interferir por controle remoto. Se algo der errado, teremos a possibilidade de corrigir algumas coisas”, explicou o astronauta desenvolvedor. Entendi rapidamente!, "algumas coisas" significam a capacidade de ter sentimentos junto com pensamentos, ou seja, alguns dos meus amigos e eu seríamos descartados e talvez eu mesmo fosse o próximo a ser lançado sem compaixão ao espaço infinito, pois segundo o austronauta pesquisador eu, além de emocional, nasci hipertrofiado, ou seja grandão.
Microcérebro continuou com suas memórias  - " Então eu me lancei sem pensar em mais nada sabendo que cairia naqueles pelinhos macios de Marietiniá e para onde ela fosse, com ela eu iria. Aqui chegando, quando a noite caiu você se aproximou, Mocorongo. Eu consegui, num esforço hercúleo, pular para sua orelha e o resto da história você ja sabe." 
Todos se emocionaram com a história daquele serzinho tao frágil e também se condoeram com tantos outros que naquela situação se encontravam.
- " Mas que barbaridade! Uma história triste demais! Pois que ele more aqui nas orelhas do Mocorongo enquanto precisar. Vamos pedir ao Sapito para construir uma casinha que lhe proteja a cabeca tão mole. e, para completar vamos chamá-lo Cérebro! Sim, Cérebro será o seu nome.".
Tudo esclarecido, Marietiná avisou ao morcego que ela e os meninos precisariam dele  na expedição espeleológica ressaltando ser essa uma missão muito importante para os meninos. Tanto é assim que foi dado a ela a possibilidade de se transmutar em humana para acompanhar a jornada. Disse o Mocorôngo - " Eu não quero ir não. De outra vez em que entramos no túnel, ao sair do outro lado, havia tanto sol e a areia estava tão quente que acabei saltitante para nao queimar os pés. Vou não! Posso não." 
Enquanto falava alçou vôo em direcão a torre da igreja.
Marietiniá desistiu de convencer Mocorongo e foi ao encontro de Zuumun. Ele estava nas ruínas do Forte Orange com os meninos passando alguns conhecimentos em pacotes de informação a serem acessados aos poucos em suas idéias, sempre que deles precisassem durante a expedição.
 
Os meninos aprenderam sobre a geologia subterrânea da terra em seu conteúdo e dinâmica. Se encantaram com o funcionamento do planeta. Aprenderam a manipular a luz e saber que com ela se faziam muitas coisas além de lumiar e aquecer.  

Eles estavam realmente incriveis. Se surpreendiam com a capacidade expandida de adquirir conhecimento. Luiz, que desde o início do treinamento desenvolveu habilidades inimagináveis, subiu facilmente até  a torre da igreja para buscar o teimoso Mocorongo que se deixou levar vencido pelo carinho que tinha para com aqueles dois, assumindo fazer parte da aventura. Sabia, no fundo, no fundo, da satisfação de estar dentro da caverna. Para ele a escuridão e o silêncio a tornavam um mundo paradisíaco...
Precisavam se apressar. Chegada a hora de partir. A nave de Zuumun viria busca-los em menos de uma hora. Aguardariam por ele no coqueiral.     


Nao demorou para que a nave surgisse do nada e os levasse para a incrível aventura. 
E lá foram eles.

A caverna ficava a uns 1.200km da casa da Vovó e para aproveitarem um pouco a vista, Zuumun os conduziu devagarinho e em baixa altitude durante os alongados 5 minutos de viagem,  afinal ,  bastaria realizar um salto quântico e estariam na caverna em tempo instatâneo. 
                
A entrada da caverna Terra Ronca em Goiás, no coração do Planalto Central brasileiro, parecia uma bocarra quando vista de longe. Ao se aproximarem saltaram dando início à jornadaDali por diante seriam só eles.
 
Saltaram juntos, descendo até o solo dentro da imponente abertura.

Foi a primeira vez que saltaram. "Isso sim era aventura!" pensou Carlos. Mocorongo foi o último a saltar, mas aterrizou logo em seguida. 
Marietiniá e os meninos repassaram as orientações e, com os últimos acertos feitos, trocaram os uniformes da Federação pelos macacões para seguir caverna adentro.
Estavam equipados com lanternas e todos os equipamentos de segurança mais sofisticados que os terráqueos possuem. A eles não foi dado nenhum instrumento que não fosse criado no planeta Terra. Nem sabiam muito bem o que deveriam fazer, ou encontrar, apenas sabiam que contariam com os conhecimentos dados e que o sucesso da missão dependeria das decisões tomadas a cada passo do caminho. Zuumun os encontraria no final para trazê-los de volta. Confiar em seu Mestre era o primeiro ato de sucesso na missão. 
Entrar no mundo subterraneo inóspito tornava a aventura algo muito radical.   Não é ambiente para humanos e grandes mamíferos. Perder-se numa caverna significa um grande risco, assim sendo, tanto Marietiniá, quanto Mocorongo, teriam uma tarefa de grande responsabilidade ao acompanhar a descida.
Seguiram o caminho mapeado cruzarando o primeiro salão. Era tão grandioso  que nem acreditaram quando viram a passagem seguinte. Ficaram desanimados, pois havia uma entrada estreita, parecia mais um buraco na parede do que um acesso. Isso assustava.
 
Então o abatimento passou logo que os pensamentos desalentadores foram trocados pela vontade de fazer. 











Atravessaram se arrastando e Mocorongo à frente dava as informacões necessária.
Assim que o estreito caminho chegou ao fim a beleza de um imenso salão se apresentou. Uma claraboia natural iluminava tudo.
Viram imensas estalactites, estalagmites, cachoeiras.
As luzes de seus capacetes e lanternas faziam brilhar os pequenos cristais incrustados nas paredes e teto.

Parados,  admiraram por alguns minutos o lugar. Depois resolveram seguir o rio. Sabiam necessário descer muitos metros ainda. Talvez, uns 30 metros abaixo de onde estavam agora e descer naquelas condicões seria cansativo. 
Marietiniá percebeu que eles estavam animados com esse mundo diferente e por isso ela ficaria ainda mais atenta. Precisava judar nos momentos em que eles próprios perdessem  a concentração, ou ficassem eufóricos. Andaram por galerias de alturas inimagináveis, e passaram por outras parecendo meros corredores apertados. Encontraram o rio em seu trecho mais estreito e pensaram ser a hora de atravessar.  A estreiteza das margens tornavam turbulentas as águas escuras. Um momento a requer força e precisão. Marietiniá propôs lançar uma corda de lado a lado como guia e sustentação na travessia da correnteza. Mas os meninos se lançaram ao rio intentando nadar, antes mesmo que a ideia fosse ouvida.
Mocorrongo e o Cérebro quiseram levar as mãos aos olhos e não ver a cena intempestiva, mas Cérebro não tinha mãos e acabou ficando de olhos arregalados, pois não possuia pálpebras para fechar. O Mocorongo não tinha olhos para tampar e conseguiu, no susto da hora socorrer o Cérebro levantando a própria pata com a intenção de poupar o amigo da visão do que viria a ser uma queda abissal.
E de fato a antevisão dos amigos se confirmou. Em consequência da decisão afoita,  os meninos desceram sem controle corredeira abaixo até a crista de um imensa cachoeira. Marietiniá, no esforço de tirá-los da borda da cachoeira, acabou também levada pela corredeira e os três caíram.
Se a idéia era descer muitos metros rapidamente, eles conseguiram... Caíram direto no poço imenso da cachoeira e, ainda atordoados, recuperaram o fôlego e seguiram adiante. Perceberam que dentro da caverna não é lugar para ser afoito. 
Seguiram até a praia e, de lá, viram a altura da qual despencaram. Ao voltar seus olhares ao redor, não viram mais Marietiniá... haviam se perdido dela. Nunca se sentiram tão sós como naquele momento e, tristes, seguiram pela margem do rio, torcendo para reencontrá-la. 
Tudo isso se passava na caverna Terra Ronca, mas na casa da Vovó as coisas também não estavam tranquilas... Ela procurou pelos meninos e encontrou a Profridência, o Sacifreuderê, o Crânio e dois arquitetos, enviados por Domilá, ajudando o caranguejo no audacioso projeto da nave espacial para os meninos. 
O Sacifreuderê acompanhava atento cada idéia, cada cálculo proposto. Aqueles dois juntos pareciam formar uma dupla e tanto! 
Sua atenção se voltou para Vovó assim que a viu. Ela parecia aflita. Sacifreuderê tinha razão, ela estava à procura dos meninos, mas não os via em lugar algum. Os dois arquitetos espaciais disseram para onde eles foram. -"Sairam há algumas horas com Zuumun numa importante expedição na caverna. Ao saber disso a Vovó ficou ainda mais aflita. Não foi dificil prever o que se seguiria e não era preciso ser advinho para saber. A Vovó chamou a todos que quisessem ir com ela até a caverna Terra Ronca. Num instante todos acorreram e se instalaram na Kombi da Joaquina, menos Don'Judite. Antes a curiosa coruja quis saber do Crânio sobre a quantas andava o projeto da espaçonave. Ele contou, com satisfação, alguns detalhes e depois foram até a praia se juntar aos outros na kombi. Antes, contudo, caranguejo que era, Crânio não deixou de lascar um beliscão em Don'Judite que falou com seus botões...
"Quem tem caranguejo, ou mesmo um siri patola como amigo, vive a levar beliscões..." Pensou Judite compreensiva para com a natureza dele.
Ninguém queria ficar para trás. Ninguém queria ser esquecido. Afinal, uma aventura como aquela dava movimento à vida.
Só o Pocotó não poderia ir, pois era grande demais. Não caberia na Kombi cheia. E ele também não queria sair da sombra do coqueiral e, ao mesmo tempo, decidiu que  aventurar-se não lhe agradava.
Lá se foram eles em busca dos meninos.
Sairam do litoral cruzando o sertão da Bahia, a Chapada Diamantina, até finalmente chegar ao destino.
Enquanto procuravam pela entrada da Caverna um pneu furou. Vovó desceu da Kombi e chamou Sacifreuderê para ventar dentro do pneu e assim encher rapidamente. O que Vovó não esperava era a rápida aproximação de um numeroso rebanho Nelore vindo na sua direção. 
       
Vovó só teve o tempo de correr até a mata densa logo adiante. Ao vê-la em perigo o Sacifreuderê ventou ligeiro na direção do rebanho gritando:

" Espirra e voa mequetrefe! 
Se querem assustar, 
Um grande susto irão levar, 
Pois quem cuida da Vovó
é um Saci danado que
De braços amarrados
nunca estará!"

E assim dizendo ventou sobre os valentões botando o rebanho para correr. Não demoraram a encontrar a entrada da caverna em meio a mata. Vovó achou melhor esperar por eles ali mesmo, pois não tinha equipamentos de segurança e em algum momento eles haveriam de retornar... 
Enquanto a Vovó esperava de fora, lá nas profundesas da caverna os meninos seguiam com a esperança de reencontrar Marietiniá. E conforme adentravam foram surpreendidos pela visão de uma linda moça que tentava sair da caverna.

                                           Carlos e Luiz estranharam aquela mulher que andava sobre as águas, mas nada comentaram. Ela se aproximou e foi incrível a história que lhes contou sobre ter fugido de um lindo e iluminado salão cheio de luzes, música e cores, pois não encontrou lá a prometida alegria. - "Eu andava sozinha pela caverna e fui levada para lá. Aconselho que saiam logo daqui. Se conteceu comigo certamente acontecerá com vocês também. Saiam daqui rapidamente e irei com vocês! Vamos sair enquanto há tempo". Mas, não tiveram o tempo de fugir. Um segurança do lugar os pegou e não havia o que fazer a não ser se deixar conduzir.Lembraram-se de Zuumun dizendo: -"Não enfrentem com a força aquele que mais força tem. Lembrem-se,  sobre a força bruta, a inteligência sábia prevalece." A estas palavras se somaram a péssima lembrança de como foram afoitos ao entrar no rio e a consequência, além da dolorosa queda da cachoeira, é estar agora aprisonado nesta situação assustadora.  Foram obrigados a entrar por uma estreita passagem se arrastando no chão e só então chegaram ao lugar do  qual a moça havia lhes falado. Era um imenso e incrível lugar com telão e vídeo games. Quem poderia imaginar encontrar algo assim numa caverna?   Eles realmente acreditaram que haviam chegado ao destino e consideravam que Marietiniá também tivesse sido resgatada. Sentiram-se gratos a Zuumun por poderem conhecer aquele alegre e maravilhoso lugar.
O segurança os levou aos equipamentos disponíveis. Pessoas dançavam ao som de uma mega banda. Um imenso telão mostrava que haviam outros jogadores, mas eles não conseguiam ver muito bem quem eram. Estavam todos muito concentrados em seus jogos e eles próprios também só queriam fazer o mesmo. Não se importavam com mais nada, tanto que sequer lembravam da moça que encontraram pouco antes de serem pegos. 
Tudo brilhava naquele lugar, assim como Zuumun descreveu. Um lugar com brilhos de cristais coloridos. Aquilo lhes parecia ser o paraíso. Deixaram para trás as escaladas de paredões, rios com correntezas... Agora só música animada e ótimos jogos virtuais. 
Passaram horas alegres e com muita diversão. A voz do Influenciador se  fazia ouvir, dizendo como era fácil ganhar nos jogos. 
Enquanto isso tudo acontecia, Mocorongo e Cérebro, que ficaram no alto da cachoeira quando os meninos caíram,conseguiram rastreá-los através do som que os meninos emitiam. Não era tão simples, mesmo para Mocorongo. O eco nos salões reverberavam ao cruzar as ondas sonoras criando distorções na informação. 
Foi em meio a esta preocupante e anestesiante festa que Mocorongo e o Cérebro os encontraram. Ao perceber o que acontecia, Cérebro gritou no ouvido do Mocorongo:   -  " Tudo aqui está ligado na tomada! vi os canos que sobem em direçao ao teto e de lá certamente chegam ao lado de fora da caverna. Vamos puxar o fio da tomada e tudo acabará na mesma hora. Os meninos estão seduzidos pelas palavras enganadoras dessa gente. Com tantas distrações e necessidades criadas ficou muito, muito fácil convercê-los de que este é o lugar  indicado por Zuumun.   Todos parecem legais, mas na verdade não são, só querem deixá-los presos e sem vontade de viver a vida lá fora.".
Quando Mocorongo ouviu o Cérebro dizer "palavras enganadoras" lembrou imediatamente dos Mercurinos. E se indagou se por acaso não seriam os próprios querendo estragar a educaçao espacial dos meninos.
Concordaram que alguma coisa precisava ser feita. Sabiam do perigo  ao colocar os meninos em risco, mas também sabiam que o risco maior seria eles continuarem ali . Assim que o Morcego tomou a decisão de desligar os fios elétricos que alimentavam a escravidão mental, Marietiniá chegou e se juntou a eles na operação. Ela percebeu o que ocorria e quão envolvidos os meninos estavam, a ponto de confundirem a claridade vibrante, a música e as cores do salão com a vida real. Tudo ali vibrava, mas era a vibração agoniada a fazer com que eles tivessem a vontade e a urgência de nada fazer, a não ser estar ali.  - " Mocorongo e Cérebro têm razão.  Neste momento eles precisam da escuridão para acordar." Pensou. 
Marietiniá baixou a alavanca da gambiarra feita pelos mercurinos atentados e tudo ficou às escuras. Para Mocorongo a mudança  do claro para o escuro profundo não fazia a menor diferença para ruim, ao contrário. A Marietiniá sentiu o desconforto inicial de adaptação, pois gatos enxergam razoavelmente no escuro e, mesmo estando em forma humana,  seus olhos eram os mesmos de sempre. Rapidamente foram ao resgate dos meninos e de alguns outros que da mesma forma se encontravam presos com cinto eletrônico às poltronas de jogos. Ao desligar a energia todos os cintos foram instantaneamente desativados e com ajuda puderam se levantar e seguir Marietiniá e Mocorongo na travessia escura. Carlos e Luiz imediatamente acionaram suas lanternas do capacete colocando em prática o que aprenderam sobre a tecnologia de luz para curar. Ajudaram àqueles com dificuldades de caminhar, aos machucados, inclusive a moça que recém conheceram. 
Todos se recuperaram rapidamente e se sentiram prontos para sair logo daquele lugar.
Conforme avançavam caverna adentro, pequenas clarabóias  surgiam  iluminando naturalmente o local. Sinalizando estarem próximo a saída. Surgiam aqui e ali animais muito diferentes. Coloridos, grandes e muito bonitos. 

 
Conforme seguiam em frente, a paisagem também mudava e o teto da caverna foi ficando cada vez mais alto, a ponto de parecer um céu amarronzado. Diante de tantos acontecimentos, eles pensavam que nada mais de extraordinário
aconteceria. 
Ledo engano.
Passavam ao largo de um paredão  coberto com flores lindas onde pararam  admirando a beleza, quando perceberam movimentos, como se as flores descolassem da encosta. De fato era isto mesmo. E alguns segundos viram surgir uma gigante. Ficaram sem saber se deveriam, ou não fugir.
 Como não conseguiram se esconder, admiraram a perfumada beleza. Era realmente coloçal. Ela era a guardiã da entrada do mundo subterrâneo, onde só era possível entrar por intermédio dela. E foi isso que ela fez colocando os meninos em sua mão e ultrapassando as rochas até chegar ao outro lado, causando o espanto neles dois. 
Não era possível crer em si próprios! Como isso foi possível? Mas não deu tempo de questionar ao olharem para frente e se extasiaram com a cidade brilhante diante deles. 
Zuumun tinha razão. A cidade brilhava.
Por falar em Zuumun, ele estava chegando com a sua espaçonave! 
Os meninos se entreolharam pensando a mesma coisa... - " Como Zuumun teria entrado na cidade subterrânea com sua nave...", e disseram em uníssuno: - "Melhor nem perguntar...". 
A população da cidade veio recebê-los com alegria, mas era chegada a hora de voltar para casa. Antes, porém Zuumun falou com eles sobre a expedição. 


Carlos e Luiz, meio cabisbaixos, se desculparam-se por não conseguir realizar bem a travessia. - "Fizemos tudo errado Zuumun. Sabemos que sim." Contaram como se lançaram no rio achando que seria possível nadar entre as margens próximas e nem ouviram Marietiniá sobre o melhor a fazer e como  logo depois da queda na cachoeira, deixaram que ela se perdesse e ficasse sozinha na caverna. Contaram também como foram levados por um troglodita e se deixaram enganar pelo brilho e facilidades oferecidas. Mas Zuumun não deu  importância maior para as escolhas equivocadas dizendo: - " Foi uma experiência e tanto. Além disso Mocorongo e Cérebro foram admiráveis. Perceberam que os mercurinos estavam por trás de tudo. Eles usaram da ilusão com o intuito de confundir e atrapalhar os meninos e Marietiniá. Fizeram com que ela se afastasse ao aparecerem diante dela como se passando por Carlos e Luiz .

Vocês não esperaram para que outros fizessem por vocês - Disse a eles Zuumun - No momento que mais precisaram foram auxiliados por seus amigos e companheiros de expedição. Da mesma forma, no momento em que vocês foram necessários, auxiliaram  cuidando daqueles que se machucaram.  Enfrentaram os enganos e viveram uma grande aventura. Ouçam, eu não estive fora. Estive com vocês o tempo todo e não precisaram da minha intervenção em momento algum. Resolveram as dificuldades com nobreza e através de atitudes venceram a si mesmos.  Neste momento, como seu Mestre Estelar, concedo aos dois o grau de aspirantes à cosmonáutas. Agora vamos embora que a Vovó está preocupada e esperando por vocês na entrada da caverna.".
Vovó esperava mesmo pelos meninos na entrada da caverna e teve tempo para pensar que, já estando a meio caminho do Planalto Central, seria esta a melhor hora de voltar para Brasília e foi isto o que fez.   
Ao chegarem viram, maravilhados, que era o tempo da florada dos ipês. O Sacifreuderê animado cantarolou:
Brasiliando a minha brasilidade
Hoje vou de ‘Zebrinha',
Mas voltarei de ‘Camelo'.
Descerei a Tesourinha da oito
Pra pegar o balão das centos
E chegar à Igrejinha.
Barbaridadeee! Que cidade linda!


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente sobre as Fotofábulas Fabulosas.