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11 - A árvore do sabido

Um dia, quando a alvorada começava a clarear o céu, Carlos e Luiz saíram para investigar a rota do tubarão.
Com o mar calmo e a brisa suave, o dia estava perfeito à empreitada e o barco os esperava para zarpar.
Embarcaram seguindo o mapa das possibilidades, velejando mar adentro sem ao menos imaginar que, enquanto procuravam o tubarão, mais uma aventura começava na casa da Vovó...
O mar quebrava ondas, o vento balançava os coqueiros, o Pocotó comia a relva orvalhada, não evaporada pelos os raios do sol. 
Em casa, a brisa acarinhava Marietinha e a fazia ronronar sonolenta.  Mas a morosidade do momento foi interrompida, quando ouviu Vovó dizer: "Minhas fotos sumiram! Ai, ai...  Só pode ser danadice de Saci!"


Marietinha se espantou e correu para e se escondeu em baixo do Brugre. 
Achou melhor acompanhar de longe os acontecimentos até a Vovó se acalmar. "Nunca vi Vovó tão brava!" comentou baixinho com seus bigodes.
Vovó continuava a procurar por quem teria sumido com as fotos das fábulas. Ela terminara de escrever Paranã pucá e, de repente! Poff! sumiu tudo, a historinha e as fotos! Assim, sem mais nem menos. Sequer um breve e educado aviso de erro dado pelo computador. "Isto está me parecendo coisa de Saci! Só pode ter sido o Sacifreuderê! Ultimamente ele andava me rodeando e cheirando, para ver como estava sua imagem nas fotos. Ah! vou atrás desse enxerido do gorro vermelho e quando o encontrar farei de seu couro um tamborim! Arre!".
Marietinha viu Vovó ir até a praia em busca do Freudão. Ela sabia que a esta hora o bom e velho Sacifreuderê já começava a tomar o rumo dos ventos e só voltaria no final do dia. Algo precisaria ser feito para desfazer o engano, do contrário, pobre Freuderê! Viraria Tamborim!
Depois do susto Marietinha ponderou com seus bigodes: "A Vovó jamais transformaria o querido Sacifreuderê em qualquer coisa. Imagino que ela está triste com a perda da nova fábula, e isto lhe dói como se tivessem lhe pisado os calos.".

Marieta não sabia que naquele dia, diferentemente de todos os outros, o Sacifreuderê resolvera acompanhar o embarque dos meninos em busca da rota do tubarão.
Foi isto que Profridência viu, quando acordou, e foi isto que ela contou para Marieta.
"Mas, olhe Marietinha! já vejo Freuderê ventando de volta!" – exclamou Profridência abanando o rabo - "vamos contar a ele o que está acontecendo.".
Joaquina e Don'Judite sentiram de longe o cheiro de aventura e chegaram no momento que o Sacifreuderê aterrisava em casa. 
Logo se reuniram para encontrar solução e livrar o Freudão do embaraço. Marietinha entrou e se acomodou no bugre para fugir do sol, o que bastou para o apavorado Sacifreuderê ter uma ideia daquelas que mudam todo o curso de uma história. "Vovó está me injuriando. Mas, que barbaridade! Não fui eu! Logo a vovó! A minha querida vovó...
Vamos fugir antes que ela me encontre! Entrem todas no bugre que Marietinha já está lá!". Mal terminou de falar, foi em direção à traseira do bugre dizendo à Marieta "Cuide do volante que eu empurro com meu vento! Ligeiro, Vovó está chegando e vai me transformar em tamborim!"
Tudo aconteceu tão rápido que, quando Marietinha percebeu, já estava voando e assumindo o volante do bugre para dar a direção.
A arara Joaquina, que já não via a hora de viver uma boa aventura, gritou animada: "Ora, vejam só! Enfim teremos uma boa aventura! Voa, Voa Sacifreuderê! ".
 Don'Judite e Profridência nem tiveram tempo de decidir se queriam ou não fugir da casa da Vovó.
"Bem, bem... O bom e velho Sacifreuderê desatinou..." Disse Don'Judite pensativa.
"Pobre Freuderê! Precisamos avisar a Vovó." Falou Profridência, enquanto corria até a praia para encontrá-la deixando para trás a coruja Judite pensativa: “Uhmm... Desde que voltamos de Paranã puçá Fridoquinha fala com sotaque de lá... mas ficou um encanto!”.
Assim  que chegou à beira mar, Fridoquinha viu Vovó correndo prá-lá e prá-cá chamando pelo Sacifreuderê. 
"Freudão, Para onde levou minhas fotos! Onde você está! Volte aqui!" Dizia enquanto colocava as mãos na cabeça.

Profridência nunca tinha visto Vovó tão brava. "Pobre Vovó, pobre Sacifreuderê!", pensou ela. Acendeu a luzinha em seu pescoço para ver se assim lhe ocorreria alguma idéia. Pensou em se aproximar devagarinho e contar, com todo cuidado, que o Sacifreuderê pegou o bugre e fugiu com Marieta. Mas Fridoquinha, apavorada, pensou: "Ai, ai... Como dizer isto a ela sem que fique brava comigo! Apostio oitxo vezes oitxo vezes que ela não vai gostar nadinha dessa notícia!". 
Além disso, ela pensava como comunicar tanta informação para a Vovó, apenas balançando o rabo.
 
Don'Judite e Joaquina combinaram voar em diferentes direções com a esperança de achar o Saci desatinado.
A coruja encontrou, pela estrada, uma jegue com seu filhotinho e perguntou a ela se, por um acaso, tinha visto um Bugre vermelho empurrado no ar por um gato saci e uma gatinha muito linda na direção.
A Jegue respondeu: "Se eu não tivesse visto com meus próprios olhos, diria que a senhora inventou tal história. Mas sim, eu vi!" Apontou a estrada com as fuças indicando a direção. Continuou informando: "Seguiram para aquele lado e pareciam estar com muita pressa.".
Enquanto isso, O Sacifreuderê e Marietinha estavam perdidos, sem saber para onde ir. Pararam o Bugre na areia da praia. Marietinha continuou sentada ao volante, enquanto Sacifreuderê foi buscar caminhos entre as lagoas e mangues abundantes nas cercanias. Avistou alguém andando de um lado para outro, com um tucano no ombro, acompanhado de um cachorrinho usando um tapa-olho.  
Neste momento a arara Joaquina, sobrevoando a praia, ouviu lá do alto o Sacifreuderê perguntar ao Pirata Dampier: "Bah!! Tu és um pirata de verdade! O que fazes aqui nesta praia?". O pirata respondeu: "Há mais de 500 anos procuro um Saci danado que me roubou o tapa-olhos numa luta infernal! Enquanto não o recuperar, não descansarei! Juro, pelas perigosas ondas do alto mar! Pegarei aquele Saci danado!". Freuderê lembrou a história contada pelo Saci Tererê sobre como tomara o tapa-olhos do pirata malvado e acabou preso num tonel...
Saiu de fininho antes que o Pirata o confundisse e também quisesse torná-lo couro para tamborim. 
Marietinha esperava no Bugre conversando com seus bigodes, e nem percebeu quando um gato furtivo entrou e se instalou no banco traseiro.
O ousado e intrépido gato magricela ouviu atento Marieta falar: "O Sacifreuderê está mesmo apavorado. Venta aqui e acolá sem saber que rumo tomar... Bem, continuarei tranquila, pois entendo que se saímos, então chegaremos, mesmo que eu não saiba onde.".
O Sacifreuderê retornou querendo sair logo daquela praia e se afastar o mais rápido possível do vingativo pirata. Seguiram por uma estrada que certamente os levaria a algum lugar qualquer, não importava qual, desde que ele se sentisse à salvo.
No caminho viram passaredos, revoadas de borboletinhas amarelas, rebanhos de cabras...
Iam se distanciando do mar.
“Bah! Marietinha! Nem sei para onde estamos indo, mas já estamos na Reserva de Saltinho onde, de outra vez, viemos atrás do Áribo, o urubu. Aqui poderei virar à direita e chegar na Praia dos Carneiros e...”. Mas antes que completasse o que estava dizendo foi surpreendido pelo gato escondido, até então, no banco traseiro.
“Barbaridade! Que quanto mais eu fujo mais assombração me aparece! Te esconjuro mequetrefe!”, e assim dizendo fez manobras radicais nas alturas para tentar derrubar o gato invasor. 
Ventava forte rodopiando como um furacão e mesmo Marietinha, acostumada com as interpéries heliocêntricas do Sacifreuderê, quase caiu.
Mas o gato intruso era valente e cheio de destreza. Se segurou firme até que o Sacifreuderê desistiu de fazê-lo cair.
De volta à calmaria Marietinha, ainda meio tonta de tanto rodopiar, falou olhando admirada para o gato desconhecido: “Seja você quem for, por certo é alguém muito forte e hábil.”. Contudo, Baru Norberto sentia náuseas. A cabeça parecia rodar e rodar e rodar. Começou a ficar um tanto verde até vomitar uma mistura de pelo e caviar:chjuca, chjuca, chjuca. Depois, limpou com o belo cachecol de seda japonesa a babinha que ainda lhe escorrida da boca e fez um cumprimento elegante e agradecendo Marietinha pelos elogios.
 
O Sacifreuderê, disse a si mesmo entre dentes: Bah! Ele chamou o juca dentro do Bugre. Baarrbarrridade! Agora é que não tenho mesmo salvação, se vovó me achar também serei injustamente acusado de sujar seu carrinho vermelho.. Desconfiado e enciumado continuou: Além de tudo o mequetrefe é dado à salamaleques! Mas darei corda a ele para saber o que faz aqui...”.

O gato se apresentou com o pitoresco nome de Baru Norberto. O Freudão achou meio estranho, mas Marieta se encantou pelo guapo, digo, gato. E assim os três ficaram se cheirando até saber o quanto poderiam confiar um nos outros. Cheira daqui, cheira dali, e o tempo de gato só gato sabe quanto é, mas para o tempo de gente pareceu rápido.
Ao sentir confiança, o Baru Norberto contou sua estranha história: “Sou um gato ninja treinado nos confins do Japão. Um dia entrei num navio correndo atrás de um rato danado e quando percebi já estava navegando em alto mar.”.
“Sabia que tinha caroço nesse angú!” Pensou Sacifreuderê. “ Esperarei para saber mais, antes de botar o gaiato para correr!”
Baru Norberto continuou: “ O navio atracou numa terra muito distante, onde tem um imenso vulcão. Durante a viagem me fartei com tantos camundongos e percebia a admiração dos marinheiros quando eu pegava algum. Acho que gostaram mesmo de mim...”
E o Sacifreuderê comentou baixinho com Marieta: “Como é vaidoso este aí!”. Baru Norberto continuou contando: “lá, fui parar num enorme palácio com lindos jardins e laguinhos. Entrei junto com um carregamento de peixes e ouvi quando disseram que ali era o reduto milenar de treinamento dos Samurais. Antigos guerreiros do imperador! Resolvi ficar por lá e aprender tudo o que pudesse com eles, em troca comeria os ratos e pouparia os peixes coloridos e deliciosos que nadavam nos laguinhos.”.

Marietinha falou: “Nossa, você foi abnegado. Resistir aos peixes coloridos deliciosos não é para qualquer um.” E o Sacifreuderê, à contragosto, teve que concordar com ela, afinal ele mesmo não conseguiria fazer tamanho sacrifício. 
O gato continuou contando: “Depois de alguns anos, formado nas artes samurais, saí para defender o império, mas acabei me envolvendo com pessoas erradas e usando meus conhecimentos contra e não a favor da paz. O mestre samurai disse que eu não agia como um guerreiro samurai, mas como um ninja, lutando por si e não pelos outros e se eu quisesse voltar a ser um samurai ele me daria uma missão especial para provar que posso voltar a ter a honra de ser um deles. É por isso que estou aqui, para realizar minha missão e provar que sou um guerreiro justo e não um ninja doidinho!”. 
E o Sacifreuderê já se animara com aquela história fantástica e disse: “Bah! guri, que já gostei de ti! Pode ir com a gente. Só não sabemos ainda para onde estamos indo, mas precisamos nos apressar antes que a vovó nos encontre e faça de meu coro um tamborim!”.
“Se quiserem podem ir comigo e até me ajudar em tão difícil missão. Mas terão que confiar em mim, pois não posso dizer qual será”.
Assim, seguiram com Baru Norberto até a Pedra Furada. Um lugar cheio de história e também antigos mistérios...
Durante toda a viagem o enigmático gato não parou de falar. Contou sobre sua estada no Japão e como voltou para o Brasil num grande avião. E eram tantos os detalhes que o pobre Sacifreuderê nada conseguia dizer, pois Baru Norberto não parava sequer para respirar  e contava:  Na volta ao Brasil usei dos meus poderes ninja para me passar por gente. Tive que vir calado pois a língua deles não sai em boca de gato, mesmo quando a boca do gato está no formato de boca de gente!”, e emendava, “Alguém ao meu lado teimava em dormir. Apesar de eu ficar calado, sentia uma grande necessidade de abanar o rabo para me comunicar, mas nem rabo eu tinha, foi muito difícil ficar em silêncio durante tanto tempo! Mas como sou cavalheiro educadíssimo, mesmo me virando prá lá e prá cá, para ser simpático ao companheiro ao lado e livrá-lo das inconveniências de dormir, eu conseguia fazê-lo com alma felina, delicadamente - ele gesticulava para mostrar... E... Parará, parará, rororó, rororó...”.
“ Valei-me óh, Grande Gato! pois neste momento me desespero! Exclamou o pobre Sacifreuderê. “Este ninja nunca será um guerreiro samurai! Ele parece educado e refinado nas mais nobres etiquetas, mas... Barrrbaridade! O mequetrefe não consegue se manter quieto e põe tudo a perder!”.
Pareceu à Marietinha que o mesmo vento que o Freuderê tinha para ventar, o Baru Norberto tinha, dentro da cabeça, para pensar.
O dia estava claro com o céu azul, quando o Sacifreuderê, Marietinha e Baru Norberto avistaram, de longe, a imponente pedra furada, nas cercanias da cidade de São Raimundo Nonato, PI.
Enquanto isto, Na casa da Vovó...
Frida conseguiu mostrar à Vovó que o Sacifreuderê, magoado e com medo, fugiu levando Marietinha. Depois titubeou, mas criou coragem e informou também que eles tinham fugido no Bugre que a Vovó tanto adora e nem deixa triscar! Vovó levou as mãos ao coração: “Meus quindim! Como posso viver sem meus quindim?”. 
Frida se entristeceu demais ao ver a vovozinha tão triste... As duas sentaram na areia e ficaram ali até Vovó levantar com um belo sorriso dizendo: “Fridoquinha! Lembrei que o bugre tem rastreador! Vamos, vamos logo para casa e saberemos direitinho onde é que eles estão. Assim poderemos ir atrás para trazê-los de volta!” Profridência abanou o rabo demonstrando sua alegria. Chegaram em casa e Vovó se preparou para ir atrás dos dois. Estava preocupada e lhe doía pensar que não mais veria os "meus quindim!", como ela carinhosamente os chamava. Foi quando a arara e a coruja voltaram das buscas trazendo notícias.

Judite contou a conversa que teve com a Jegue na estrada e Joaquina contou o que os vira e ouvira na praia, a conversa de Sacifreuderê e o Pirata Dampier. 
  
Quando a arara soube que vovó sairia em busca dos fujões, lembrou de oferecer a velha kombi amarela usada na viagem à Venus. Desde então, Joaquina guardou-a na garagem e cuidou da kombi como quem cuida do brinquedo preferido, sabia que não faltariam boas aventuras para usar. Estava uma belezura! pintura renovada. Entraram todos e sem perda de tempo buscaram a estrada seguindo as indicações do rastreador instalado no Bugre. 

Quando sairam, Mocorongo viu a Formiguinha de Catarro espirrando e chorando a falta de seu amigo Sacifreuderê. Vovó pisou no freio, e Mocorongo voltou para buscar a Catarrinho.  
Vovó lembrou que Carlos e Luiz zarparam a pouco tempo e buzinou chamando por eles. Queria que fossem junto  com ela. Contudo, o barco ia longe vencendo as ondas do mar aberto. "E meus guris? Porque não vêem comigo? Teremos que voltar antes do entardecer e esperá-los na praia água-de-côco e um abraço gostoso! Vamos, vamos ligeiro para voltar antes deles!" Disse ela, já com o coração cheio de saudades, mesmo antes de partir...

Enquanto isso...
Sacifreuderê, Marietinha e o gato ninja pousaram no Parque das Capivaras. Pararam admirados. Nunca viram nada igual. Montes e pedras, desenhos nos paredões e aquele enorme buraco na pedra parecia chamá-los a transpor. 
 
“Sentimento estranho!” Cismou o Sacufreuderê. “Sinto como se tivesse que passar para o outro lado”. Saíram do bugre e Baru Norberto, ao descer, pisou num espinho de mandacaru e quando pulou para tentar se livrar tropeçou num toco de árvore, e cambaleando topou num pedregulho parando em pé e seguiu meio sem jeito, mas muito animado, caminhando com seus dois novos amigos para ver os lindos desenhos coloridos. 
“Que lindo lugar! Não é tão belo como o Monte Fuji do Japão, aliás aqui é muito quente. Será que tem um restaurante para a gente tomar um banho e tomar um delicioso suco de carne de teiú? Um que maravilha! Salivo só em pensar. Mas ainda bem que não estou aqui para passear, ah! Passear só mesmo no Japão... Ouvi dizer que próximo daqui existe o Jalapão, será que é parecido com o Japão? Mas não dará tempo, tenho a missão, só assim poderei voltar ao Japão!. O Sacifreuderê já não aguentava mais ouvir Baru Norberto falar.
 “Baaah! Mas que baaaarrrbaridade guri! Que eu até gostei de ti, mas assim já é demais! Ou tu te calas e aprecia a paisagem, ou continuarás sozinho o teu caminho, pois que já não aguento mais!”
Baru Norberto pensou, meio sentido, que não seria prudente argumentar com a falta de paciência do Sacifreuderê, afinal, conhecia pessoas que falavam muito mais que ele próprio, então estava certo que nem falava tanto assim para tirar a paciência de alguém. Logo se animou e seu pensamento rápido, como o vento de saci, definiu uma estratégia para colocar em prática sua missão, sem que os dois amigos soubessem o que ele deveria fazer. Enquanto pensava ia pisando desavisadamente em pedregulhos e gravetos que teimavam em estar sempre no seu caminho.
Desviou-se do grupo e atrás de um grande paredão de pedra ele vestiu sua roupa ninja. Quando se apresentou aos amigos, já não era o mesmo.
Estava forte e não tropeçava mais. Também não falava uma única palavra e Marietinha percebeu que ele tinha a forma de gente. Um belo ninja. Mais belo ainda seria quando voltasse a ser um honorário samurai.
“Como ele é lindo!” pensou Marietinha. Naquele momento seu coraçãozinho foi tocado pelo amor.
O ninja subiu rapidamente a pedra furada. Sacifreuderê e Marieta o seguiram com o Bugre. Só não conseguiam ver o que só era dado ao audacioso ninja ver – o grande e temível Tiranossauro Rex!
Ao longe vinha a Kombi amarela e de lá todos viram o Bugre vermelho passando através do enorme furo da pedra. Contudo, o único que não enxergava foi o que mais viu. O poderoso radar do Mocorongo percebeu que, além dos amigos, havia também o que lhe pareceu um monstro! Apavorou-se e perturbou Vovó até que ela acelerou a Kombi entendendo a urgência pelos modos do morcego. Mas chegaram tarde, já estavam do outro lado da pedra e não mais podiam ser vistos. Judite chamou a arara Joaquina e o Mocorongo e, com a rapidez que a amizade exige na hora da dificuldade, voaram como uma seta.
Do outro lado do buraco encontraram um mundo diferente.
Viram Freuderê e Marieta conversando com os habitantes de lá. 
Pousaram a tempo de ver e ouvir o pajé dizer: “Fiz Ouricuri para chamar o bom espírito. E vocês o trouxeram. Obrigada. Nos últimos dias a tribo não conseguiu dormir com o barulho do enorme e poderoso animal que chegou nestas terras. Não sabemos o que ele quer e nem sabemos nos defender dele. Agora o bom espírito veio nos salvar.” Falou apontando para o ninja. Enquanto Sacifreuderê aceitava o cachimbo das mãos do pajé pensou: 

“Bah! Como assim o bom espírito? Baru Norberto é um azougue atrapalhado. Como podem acreditar que ele é o bom espírito que chamaram? Daqui a pouco ele tira aquela roupa esquisita e sai tropeçando em tudo e catando cavaco...” 
O chefe convocou um grupo de guerreiros, os mais bravos da tribo.
À frente ia seu filho, o guerreiro menino com sua tutora, a loba guará. 
Desde pequenino era criado e protegido por ela aprendendo as artes da mata e seus riscos. Este seria o maior chefe de todos os tempo e no futuro, que é o presente do outro lado do buraco da pedra, ele seria encontrado e chamado de Zé Gabiroba.
O Sacifreuderê se entusiasmou: Barbaridade! Não posso perder esta batalha. Vamos, vamos todos ver o que acontecerá” e saiu ventando atrás do gato ninja.
O ninja tinha um equipamento estranho. Logo descobriram que era um detector de dinossauros. Ouviram um rugido estrondoso. O tal Rei dos dinossauros parecia furioso. Quanto mais se aproximavam, mais ele rugia.  
O guerreiro menino, com a loba e o ninja, escalaram um paredão para alcançar e atacar o temível. Precisavam salvar a tribo, mesmo que lhes custasse a vida.

Enquanto isso, 
a curiosidade de Marietinha a levou para o outro lado do paredão. E qual foi sua surpresa ao chegar lá!




O terrível dinossauro, na verdade era mamãe dinossauro que estava muito brava com todo aquele movimento perto de seu filhotinho. Por isso rugia tanto e tão alto, ela precisava protegê-lo!
”Que bebezinho mais lindo! Brilhante com essa armadura azul com o que sua mãezinha o protegeu das flechas. Aliás, Repare! É feita de diamantes! Uma belezura.... Pensou Marietinha. Correu o mais rápido que pode até o outro lado da rocha, onde estavam todos a combater a mamãe tiranossaura rex. Contou a todos o que vira.
Surpreso, o astuto ninja percebeu que a sua missão perigosa, na verdade era para salvar o bebê dinossauro da extinção e não para salvar a tribo! E chegado a esta conclusão, viu suas roupas serem magicamente mudadas para as roupas de um samurai. Enfim, ele conseguira a honra de voltar a ter o respeito e a dignidade do Imperador japonês.
A coruja Judite foi investigar o filhotinho e voltou dizendo que seria chamado Diamante, pois sua pele  estava coberta por brilhante e resistente armadura preciosa. Ela mesma, Acabara ter um filhotinho e queria logo voltar para sua casa, no mangue, e aninhá-lo entre as asas... “Ai, ai... que saudades do meu pequenino!”disse ela.
Por certo, agora salvo pelo venerável samurai Baru Norberto e por Marietinha, o pequenino Diamante crescerá belo e forte como a mãe e, se tiver sorte, conseguirá prolongar a sobrevivência de uma espécie que, mesmo naquele passado remoto em que estavam, já era extinta!
O pequeno, mas poderoso menino guerreiro gostou tanto de Marietinha que pediu ao pajé uma pajelança que a transformasse numa estrelinha, e também lhe desse o nome índio Tini-á, ou, em nossa língua a Estrela. 
A partir de então passou a se chamar Marietini-á. Assim, felizes, voltaram para o outro lado da pedra furada. Para o seu próprio espaço-tempo e levaram consigo a esperança de um dia se reencontrar. 
Enquanto isto Vovó e Profridência esperavam os acontecimentos sob um barueiro. Ela pensava o quanto aquele fruto era duro. Estava com fome, e não conseguia quebrar tão dura casca. Batia com um pedaço de pau, com a chave de roda da Kombi e com tudo o que encontrava e julgava suficientemente resistente para romper aquela dureza. Queria quebrar a qualquer custo, afinal ela sabia quebrar côco, então ela saberia quebrar a casca do Baru. Mas, não era bem assim...
 Quando Joaquina voltou do buraco da pedra e viu a dificuldade da Vovó, pegou delicadamente o baru com o bico e CRAC! Quebrou. 
Vovó, impressionada, percebeu que, para quebrar a casca do fruto do baru, além da força era preciso o jeito certo. Atentou para o quanto ela mesma tinha sido tão dura, quanto a casca de um baru! e, ao invés de simplesmente aceitar não sabe mexer direito no computador e, por isso, ter ela mesma perdido a fotofábula, culpou o pobre Sacifreuderê. "Ah! se tivesse percebido antes... Teria evitado toda a confusão.", disse ela ao se desculpar com seus "quindim". 
Depois da surpreendente aventura, voltaram para casa a tempo de encontrar os meninos que chegavam depois de encontrar a rota do tubarão.
Nesta volta, Vovó sabia estar mais rica, pois trazia de volta os "meus quindim", o Sacifreuderê e Marietiniá, agora encantada pelo poderoso Pajé.  

A Catarrinho sorriu aliviada por poder grudar novamente no gorro do bom e velho Freuderê, de onde jurou nunca mais sair.
Baru Norberto voltou de avião para o Japão deixando com Marietiniá seu coração. “Não se aflija minha estrelinha, voltarei.”. E, enquanto ele não voltasse, Marietiniá saudosa, decidiu: brilharia  todas as noites no céu do Japão.