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5 - O mar é doce...


As vezes Marietinha se surpreende com os movimentos da vida.
Dessa vez não foi diferente...          
Carlinhos molhava as mudinhas da horta da vovó com sua mamadeira , enquanto Marieta acompanhava de perto a função.

O tempo passava morno e tranquilo.
 Havia um cheirinho bom do bolo e das quitandas assando no forno. "Huum! - Pensou Marietinha - adoro esse perfume das quitandas da vovó."

Gatinhou em direção à cozinha para espiar a saborosa merenda.
Quando se aproximou, Que surpresa! Viu sua malinha de viajar  pronta com seus poucos pertences, pois gato precisa de pouquinha, mas bem pouquinha coisa para viver bem. Reparou que a malinha da Frida estava ao lado da sua.


Marieta ficou pensativa sem saber como avisar o Freudão sobre a viagem inesperada, já que sairiam antes que ele voltasse para casa ao entardecer.
E concluiu que esse problema, por certo, se resolveria, pois a amizade deles não conhece espaço nem tempo.
Frida, quando soube da viagem, foi conversar com seus amigos sapos para saber o que estava acontecendo.

"Frida- disseram eles - Ouvimos dizer que todos irão à praia incluindo você e a Marieta". "Praia? O que é praia?" Perguntou Frida. E os sapos esclareceram:  "É um lugar longínquo onde se vê uma imensidão de areia e água salgada. Sabemos disso porque nossos tatará-tatará-tátátátátarávós vieram de lá fugindo de tanto sal e areia.
 Não queremos ir e estamos tremendo de medo, pois é sabido que sapos não combinam com sal. O sal queima nossa pele.".
Dizendo isso tremeram de medo e saltaram em fuga para o jardim buscando esconderijo seguro em baixo das gentis Mimosas cor de rosa,  que sempre proporcionavam aos bichinhos pequeninos abrigo seguro.
De nada adiantou fugir.
Logo foram encontrados e empacotados para viajar. A arara Joaquina se aproximou curiosa querendo saber o que estava acontecendo. O porquê de tamanho rebuliço.
Desceu ligeiro do telhado em busca de informações com Dona Judith, a coruja, que prontamente a avisou:
"Rápido Joaquina!
Frida e Marieta estão partindo para um lugar chamado Praia! Parece que é tão longe daqui que não conseguiremos ir voando até lá".
Quando soube da iminente partida das amigas a Arara quis entender e perguntou à Marietinha: "Como assim? Porque não me avisaram? Como podem sair para viagem tão distante sem sequer me dizer nada... Nem mesmo sei para onde vão... Já entendi! Vocês não gostam mais de mim!"
E, sentida por acreditar no que ela mesma dizia, desceu do telhado indo embora triste e com raiva para sua casinha no alto do tronco de buriti.                                                                                              *****
Marieta e Frida partiram com o sol à pino. No caminho viram montes, vales e pradarias secas do outono sem chuvas no planalto central.
 

Tempos depois, quando já começavam a crer que a viagem seria longa a não ter fim,  venceram o cansaço da espera com a alegria por chegar às margens do bom e velho Chico, o rio.
Marietinha nunca vira nada parecido em toda a vida e pensou que o mundo lhe parecia  maior do que imaginara em suas sonhações dos cochilos matinais.                 

Ela e Frida correram até a margem do rio e Frida saltou sobre um barquinho azul que navegava nas águas caudalosas.
"Venha Marieta! - Disse ela - Só assim saberemos onde esse rio irá desaguar." Marieta pensou que Frida era muito corajosa para dar um salto tão longo até o barco no meio do rio, mas como não gostava de água fria respondeu: " Vou andando, afinal tenho quatro patas e nenhuma nadadeira. Gosto de manter minhas patinhas no chão, sem me molhar." "Venha! - insistiu Frida - Não tenha medo, pois navegaremos o rio com as garrinhas firmes no chão do barco, assim não cairemos na água".
Marietinha pensou que se barquinho tem chão para pisar, então não ficaria com medo de se molhar. E foi num salto longo e elegante como só os gatos sabem saltar.
Navegaram até a foz do Velho Chico, onde suas brandas ondas se encontram com as ondas soberanas do mar.

Aquele era o reino da Yara, a deusa mãe das águas, que vez ou outra saía do fundo do mar e andava pelas praias.

Seus cabelos eram cor de prata e em noites de lua cheia podiam ser vistos soltos sobre as águas.
Ao longe os coqueiros balançavam suas palhas na beira da praia dando boas vindas às duas que chegavam.
Desceram do barquinho azul e pisaram na areia úmida.


O sol se punha entre as nuvens, quando ouviram um barulhinho diferente: Tchic, tchic,...clich,clich, tictic.tic.
Marietinha girou as orelhinhas para saber de que lado vinha o som. Parecia barulho de bicho pequenino correndo. "Frida, de onde vem esse barulhinho?"Perguntou ela.
Mas Frida sequer teve tempo para responder, pois logo viram um pequenino ser clarinho e coberto com uma casquinha quase transparente e muitas perninhas que se movimentavam rapidamente para os lados. Andava apressado de um jeito engraçado.

"Por que estão me olhando assim? "perguntou o pequeno animal percebendo o olhar curioso das duas visitantes peludas. "Parece que nunca viram..." Disse o bichinho ligeiro. "É verdade - respondeu Frida - Nunca vimos." " Nunca viram o que?" Perguntou o pequenino ser transparente. "Nunca vimos esse lugar nem um bichinho como você."   "Bem... Ponderou o rápido animal enquanto batia as patinhas na areia. Eu sou Maria Farinha e faço meu abrigo nestas areias brancas e macias. Ah! Adoro minha casa! E vocês? Quem são?" Fridoca respondeu animada: "Viemos de um lugar onde não existe mar. É a primeira vez que vemos o mar.". "Uhmm..." ponderou novamente o bichinho transparente, enquanto coçava o largo queixo com uma das patinhas. Sem demora, como é de sua natureza, cogitou: " Hm... hum... Lugar sem mar não existe!"
E correu sobre a areia deixando um rastro de muitas patinhas apressadas até sumir de vista.
O tempo no rio e no mar  é diferente do tempo na terra. É mais moroso, mais macio, dengoso... Mas o sol e a lua são iguais em todos os lugares e como sempre acontece, na hora certa o sol vai embora dando à lua a chance de chegar.

 E ela chegou linda, derramando-se em luzes nas águas do rio e nas águas do mar.
Estavam tão cansadas da viagem que logo dormiram..
Na manhã seguinte, acordaram sob o coqueiral da praia e lugar tão belo aumentava em Marietinha a saudade que sentia do Freud e imaginava se ele saberia onde elas estavam.

"Por certo sente a nossa falta, mas não sabe onde estamos." Disse ela à Frida.
"Bem Marieta Precisamos encontrar um jeito de avisar  o Sacifreuderê que estamos na praia. Aliás, será que ele conhece o mar? Como poderá nos encontrar?".
Um cavalo, chamado Pocotó, pastava próximo a elas numa relva verdinha sob os coqueiros, e não pode deixar de ouvir a conversa das duas.
Percebeu como a gatinha e a cachorrinha estavam com saudades de tão caro amigo e resolveu interceder:


"Vejo  vocês tão saudosas e cá estou para ajudar. Façam o que eu disser e de nada se arrependerão. Quando anoitecer cantem bem suave para a lua, que é muito vaidosa de sua beleza, e se ela gostar do canto dirá a vocês o que fazer para trazer seu amigo".
Quando a noite chegou, com poucas nuvens que encobrissem o céu, Marieta buscou com seu olhar o olhar da lua e para ela cantou esperançosa: 

"Ó, Iacy! Mãe da terra e do mar
Bela prata brilha imensa
Sobre as águas deste mar.
Espelhada em imensa água
Trás saudades sem par
Quer trazer meu vento forte
O meu Saci a me apaziguar"

A lua se desmanchou em brilho quando ouviu tão saudoso canto. Ainda com lágrimas nos olhos disse à gatinha: "Marieta, você gosta tanto assim daquele Saci?" E Marietinha disse: "Gosto tanto que meu coraçãozinho dói. "Então - Disse a Lua - ensinarei você a chamar o Sacifreuderê até a praia. Cante comigo a canção do vento.
E todos cantaram juntos, inclusive Pocotó que não perdeu a oportunidade de assistir ao lual!
"Vento vem forte
Ventar nas águas de Iacy
Vento vem lento
Abrandai o coração  de Mari."
Os coqueiros da praia começaram a balançar ao  ritmo da música e do vento. A cada momento o vento ventava mais e mais dando à Marietinha a certeza que a lua atendera seu desejo. "Se tem vento, então tem Saci" Pensou ela.

O vento virou ventania e quando menos se esperava virou redemoinho. Frida e Marieta bateram patinhas de tanta alegria.
Não demorou nada, nada ela ouviu aquela musiquinha tão familiar que só o Freudão cantava:

"Marieta, porpeta,
fofeta, xereta.
Paçoca, fofoca,cheiroca!"

"Bah! Mas porque as gurias não esperaram por mim?". Perguntou o feliz Sacifreuderê. "

Marietinha contou ao Freudão tudo o que aconteceu desde o início da viagem, até  a  inacreditável cantoria com a lua  Jacy, a mãe do céu.
O Sacifreuderê contou notícias de lá. Falou como Joaquina ficara triste e sozinha em seu ninho do Buriti imaginando que ninguém gostava dela e por isso a deixaram para trás.
"Bah! - continuou ele - Falei que deixasse de bobagem, pois amor verdadeiro não se finda e ao invés dela ficar com raiva e escondidinha, dentro do tronco seco de buriti, que saísse e participasse de tudo, pois para mim toda essa história cheirava mais a aventura do que à tristeza".

Olhou à sua volta e exclamou: "Barbaridade! Mas que lugar Bonito! Dessa vez a vovó se superou, quem poderia imaginar? ajeitem aí um lugar, pois também quero ficar!
Assim, o Freud que adora as noites, aproveitou para ronronar toda sua alegria nas areias da praia. Tocou com as patinhas as águas salgadas e morninhas do mar e então, sentiu com as pontas dos fios de seu bigode, que o mar na verdade é doce, o mar é mãe...
A lua foi embora e a alvorada trouxe consigo o dia banhado de sol...
O Sacifreuderê despediu-se de Fridoquinha e Marieta prometendo: "Voltarei para buscar quem mais queira vir." E rodopiou feliz sobre os canaviais em floração.
Achou logo rumo de volta ao Planalto Central para chamar todos os que quisessem ir à praia. Estava certo que Joaquina e Judite não perderiam essa aventura. Aliás, achava mesmo que a bicharada toda ia topar ir para o mar!
Assim termina a aventura da gatinha Marieta no mar.

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